sábado, 20 de dezembro de 2014

Domingo IV do Advento - ano B - 21 de dezembro

       1 – «Faça-se em mim segundo a tua palavra». Assim termina hoje o Evangelho, mas é aqui que tudo começa para nós. Deus vem de longe, mas nunca como agora esteve tão próximo de nós. Falta Alguém que, também em nosso nome, diga SIM. No início, a Palavra de Deus: faça-se... a luz, o firmamento, os astros, os animais... façamos o homem à Nossa imagem e semelhança... e tudo foi feito segundo o Seu desígnio de amor (cf. Gn 1, 1-31). Deus confiou o mundo inteiro à humanidade. Mas as coisas não correram como expectável. Como os pais que confiam nos filhos, dando-lhes todas as condições. Os filhos não têm como falhar. Assim julgam os pais que neles confiam. Mas o certo é que falham. Tal como os pais, também Deus, que é Pai e ainda mais Mãe, na feliz expressão de João Paulo I, não desiste, nunca desiste da obra das suas mãos (cf. Sl 19,1). Procura-nos. "A misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua compaixão. Cada manhã ela se renova" (Lm 3, 20-22). Deus vem de longe, desde a eternidade, desde o início da criação, e, por amor, quer dar-nos o melhor de Si, o Seu amor maior, o Seu próprio Filho. Por conseguinte, Deus prepara Maria, desde sempre. «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo... encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus... O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus».
       No momento da Anunciação dá-se uma espera, fica como que todo o mundo em suspenso à espera de uma resposta que pode decidir tudo. E a resposta chega: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».
       O que vale em Nossa Senhora há de valer para Jesus: o meu alimento é fazer a vontade de Meu Pai (cf. Jo 4, 34), e há de valer para nós, como clarifica Jesus: "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50); "Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11, 28).
        2 – Os desígnios de Deus, desde sempre e para sempre, desde o início, são manifestos: o excesso do Seu amor transborda criando-nos; cria-nos para a felicidade, para vivermos harmoniosamente como num belo jardim, concedendo-nos a liberdade que nos dignifica como pessoas. Podemos até fugir-Lhe, negá-l'O, virar-nos contra Ele. Como Pai, Deus matem-se atento ao ser humano. Quando vê que o homem está só, dá-lhe uma companheira que possa ombrear, auxiliar, fazer-lhe companhia, com quem possa dialogar, de igual para igual, osso dos seus ossos, carne da sua carne, coração a coração, com quem possa viver (cf. Gn 2, 18), e construir família (cf. Gn 1, 28). Olha para o Seu povo que vive na sombria região da morte, e vem em seu auxílio. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9, 1; cf. Mt 4, 16). Envia-lhe guias, mensageiros, chama e envia Moisés: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos» (Ex 3, 7). Vai e liberta o Meu povo.
       Na primeira leitura escutámos como Deus renova a Suas promessas na presença de David, através do profeta Natã: «O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre».
       É esta promessa que se desenha definitivamente diante de Maria: «Conceberás e darás à luz um Filho... O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».
       Deus não mais habitará uma tenda. Deus habitará no coração da humanidade. Fará em nós a Sua morada entre os homens (cf. Apo 21,3). Maria torna-se, ao responder afirmativamente, o primeiro sacrário vivo da história, concebendo o Filho do Deus Altíssimo.
       3 – Em jeito de oração (de louvor), o Salmo sanciona tudo quanto a Sagrada Escritura nos revela sobre a vontade de Deus a nosso respeito e as promessas feitas a favor de todo o povo, a toda a humanidade, como se vislumbra em Abraão: «E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas» (Gn 12,3). Sabendo que a religião, nas suas manifestações históricas e culturais, engendra nacionalismos, a Sagrada Escritura insinua, aprofunda, desafia à universalidade do amor de Deus e da salvação a chegar a todos os povos, ainda que se concretize num povo, numa data temporal determinada, com um ROSTO pessoal.
«A bondade está estabelecida para sempre, no céu permanece firme a vossa fidelidade. Concluí uma aliança com o meu eleito, fiz um juramento a David meu servo: ‘Conservarei a tua descendência para sempre, estabelecerei o teu trono por todas as gerações’. Ele Me invocará: ‘Vós sois meu Pai, meu Deus, meu Salvador’. Assegurar-lhe-ei para sempre o meu favor, a minha aliança com ele será irrevogável».
       4 – Nesta chegada de Deus, a promessa que se cumpre plenamente em Jesus Cristo, o louvor e a gratidão:
«Seja dada glória a Deus, que tem o poder de vos confirmar, segundo o Evangelho que eu proclamo, anunciando Jesus Cristo. Esta é a revelação do mistério que estava encoberto desde os tempos eternos mas agora foi manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, para que eles sejam conduzidos à obediência da fé. A Deus, o único sábio, por Jesus Cristo, seja dada glória pelos séculos dos séculos. Ámen».
       O que estava prometido, mas encoberto, está a revelar-se com toda a força, com toda a luz. "A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer" (Jo 1, 18; evangelho do dia de Natal). Deus tem um ROSTO. "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14, 9). "É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor" (Ef 5, 8).
       A história da Humanidade desemboca em Maria, para avançar para o Seu Centro, Jesus Cristo, que instaura os novos Céus e nova Terra. Agora sabemos como prosseguir. No SIM de Maria, Deus opera maravilhas, dando-nos Jesus. Aprendamos com Ela a dizer sim a Deus: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». Sigamos o que Ela nos diz: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Para que Jesus continue a nascer, para que haja Luz em toda a terra.
       Santo Natal e que a Luz da Fé, que irradia da família de Nazaré, inunde o nosso coração, as nossas casas e famílias, a nossa comunidade. A todos os ambientes onde formos ou onde estivermos levemos o melhor de nós, levemos o Emanuel, o Deus connosco.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Sam 7, 1-5. 8b-12. 14a. 16; Sl 88 (89); 2 Rom 16, 25-27; Lc 1, 26-38.

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