sábado, 6 de dezembro de 2014

Domingo II do Advento - ano B - 7 de dezembro

       1 – "Consolai, consolai o meu povo... Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas".
       Preparar. Consolar. Converter-se. Anunciar. Caminhar. Antecipar.
       São algumas atitudes próprias do tempo de Advento e, particularmente, deste segundo domingo. É notório, sobretudo na primeira leitura e no Evangelho, o desafio da preparação que se acentua com a chegada do Precursor, Aquele que vem antes com a missão específica de preparar o caminho do Senhor.
       O profeta Isaías é perentório quanto às promessas de Deus, de nos visitar. Já se vislumbra a chegada de Deus, já irrompe a voz do mensageiro: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor... Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará... Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
       Novos tempos de justiça e de paz, de concórdia e unidade. Deus vem para resgatar o Seu povo, para ajuntar os seus membros como o pastor reúne o seu rebanho. O convite de Deus é envolvente: «Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa... Grita com voz forte, arauto de Jerusalém! Levanta sem temor a tua voz!» A voz que clama deve ser audível, falar ao coração, mas com firmeza e em alta voz, subindo ao monte para que a mensagem ressoe em toda a terra.
       2 – No Evangelho, o arauto que clama com voz forte é João Batista. Se do alto monte a voz se pode ouvir à distância sobre as cidades e as aldeias, a partir do deserto alarga-se sem fronteiras para entrar na cidade fortificada a partir de baixo, a partir do interior.
       Recorde-se, porém, que o deserto, onde se encontra habitualmente João Batista, nas proximidades do rio Jordão, no qual batizará Jesus, situa-se nas cercanias de Israel. Tal como o povo caminhou pelo deserto, purificando-se para entrar na Terra Prometida, também agora os crentes terão que fazer um caminho de deserto, de penitência e de conversão, para reentrarem na Promessa de Deus, plenizada com a chegada do Messias.
       A missão de João Batista é precisamente "proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados". É dele que estava escrito, como refere São Marcos no Evangelho, «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». A missão é predispor-nos a acolher o Messias, a caminhar, purificando o nosso coração a fim de percebermos a chegada de Deus às nossas vidas.
       Na sua pregação, intui-se a brevidade, a novidade e a grandeza do Eleito de Deus que vem: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
       Registe-se, por agora, que cada um de nós, e as comunidades cristãs no seu conjunto, deve assumir esta missão e esta pregação, preparando-nos e clamando para que os outros se predisponham a receber o reino de Deus. Transformamos a nossa vida, deixamo-nos batizar no arrependimento, na conversão e na penitência, aplanando tudo o que na nossa vida nos impede de abraçar os outros e de acolher o Senhor. Ponhamo-nos a caminho. O caminho faz-se caminhando e não apenas olhando para o caminho que temos pela frente. Há que dar o primeiro passo, para que a um, outros passos nos aproximem de Jesus Cristo, arrastando os outros connosco.
       3 – O tempo do Advento é o tempo de sermos precursores do Filho de Deus, dilatando o nosso coração para que um CORAÇÃO maior possa caber dentro de nós. Este é um tempo favorável, de graça e de salvação. Deus é paciente e dá-nos todo o tempo que precisamos para nos pormos a caminho e para modificarmos a nossa vida em todos os aspetos que nos afastam ou nos mantêm à distância dos nossos semelhantes. O caminho do Céu faz-se nos caminhos da história, da nossa história pessoal, familiar, comunitária. Aqui e agora. Se a plenitude finaliza na eternidade, é ativada, vivida e antecipada na atualidade. Vamos saboreando o que havemos de ser. O reino de Deus, instaurado na morte e ressurreição de Cristo, está em ebulição no mundo histórico-temporal.
       São Pedro escreve-nos dizendo:
«O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa... Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se... Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão... Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz».
       Lembra-nos que o Senhor virá, não tarda muito. Reassume as palavras de Jesus: o Senhor virá sem contarmos, como um ladrão. Então, há que estar preparados, vigilantes. E que significa ESPERAR e estar vigilantes? Concretiza o Apóstolo: EMPENHAI-VOS...

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Is 40,1-5.9-11; Sl 84 (85); 2 Ped 3,8-14; Mc 1,1-8.

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