terça-feira, 29 de abril de 2014

PABLO D'ORS - A Biografia do Silêncio

PABLO D'ORS (2014). A Biografia do Silêncio. Breve ensaio sobre a meditação. Prior Velho: Paulinas Editora. 160 páginas.
       Este é certamente um livro diferente, e sobretudo na nossa mentalidade ocidental mais orientada para a ação, para a pressa, para o fazer coisas, participar em atividades, passear, viajar, ansioso por coisas novas. A não-ação, o silêncio e a paciência, a meditação, embora estejam presentes, são sobretudo vistas como descanso no meio das tarefas e das preocupações da vida.
       Sendo assim, esta será também uma leitura provocante. O autor, em jeito de testemunho pessoal, vai mostrando como a meditação revolucionou pacificamente a sua vida, pois meditar é viver e viver sem meditar significa não ir ao fundo do nosso autêntico eu. Pode custar a começar, por vezes exigindo algum esforço físico e mental. Mas pouco a pouco surge a necessidade de sentar e meditar, esvaziar-se de si e neste esvaziar-se de si a possibilidade de se encontrar com o verdadeiro eu, e com Deus. Maria acolhe no Seu ventre, Jesus Cristo, porque soube esvaziar-se de Si para se encher de Deus. "Deves esvaziar-te de tudo o que não és tu... Deus só pode entrar no que está vazio e está puro. Por isso, entrou Jesus Cristo no seio da Virgem Maria" (p 136).
       Meditar ajuda-nos a encontrar a fonte dos nossos medos. Quando não meditamos reagimos, discutimos, conflituamos, por vezes sem saber o que nos levou a isso. Meditando podermos encontrar o que deu origem a este ou aquele sentimento, a esta ou aquela reação, precavendo-nos para situações futuras, antecipando qualquer manifestação de ansiedade e tensão. "Pode-se viver sem lutar contra a vida. Mas, porque se há de ir contra a vida, se se pode ir a seu favor? Porquê apresentar a vida como um ato de combate, em de de um ato de amor?" (p 123).
(José Antonio Pagola e Pablo d'Ors)

O próprio a falar sobre a Biografia do Silêncio:
Vejamos o discurso do próprio Pablo d'Ors:
"Não penso que o homem seja feito para a quantidade, mas para a qualidade..." (p 14)
"Creio que para escrever, como para viver e amar, não nos devemos reter, mas desprender-nos. A chave de quase tudo está na magnanimidade do desprendimento. O amor, a arte e a meditação, pelo menos estas três coisas funcionam assim.
Quando digo que convém que estejamos soltos ou desprendidos, refiro-me à importância de confiar. Quando maior confiança tivermos em alguém, tanto melhor poderemos amá-lo; quanto mais o criador se entregar à sua obra, tanto mais ela lhe corresponderá. O amor - como a arte ou a meditação - é pura e simplesmente confiança... A meditação é uma prática da espera. Mas o que realmente se espera? Nada e tudo. Se se esperar alguma coisa concreta, essa espera deixará de ter valor, pois seria alimentada pelo desejo de uma coisa de que se carece... as esperas costuma ser aborrecidas e incómodas...  (pp 24-25)
"Nós, os seres humanos, costumamos definir-nos por contraste ou oposição, que é o mesmo que dizer, por separação ou por divisão" (p 34).
"É absurdo condenar a ignorância passada a partir da sabedoria presente" (p 35).
"Quando sou consciente, volto a minha casa; quando perco a consciência, afasto-me, sabe-se lá para onde. Todos os pensamentos e ideias nos afastam de nós mesmos. Somos o que resta, quando desaparecem os pensamentos" (p 42).
"NO amor autêntico não se espera nada do outro; no romântico, sim. E mais: o amor romântico é essencialmente a esperança de que o nosso parceiro nos dará a felicidade. Quando nos apaixonamos sobrecarregamos o outro com as nossas expectativas... O ser amado não existe para que o outro não se perca, mas para se perderem juntos, para viverem, em companhia, a libertadora aventura da perdição" (pp 46-47).
"Tanto a arte como a meditação nascem sempre da entrega; nunca do esforço. E o mesmo acontece com o amor. O esforço põe em funcionamento a vontade e a razão; a entrega, pelo contrário, a liberdade e a intuição..." (p 54).
"TRISTE NÃO É MORRER, MAS FAZÊ-LO SEM TER VIVIDO" (p 95).
"Não importa qual tenha sido o teu passado. Não conta que bagagem levas contigo. Tu, só tu é que contas, e tudo o resto é indiferente ou, até, pode chegar a ser um estorvo" (p 106).
"Só sofremos porque pensamos que as coisas deveriam ser de maneira diferente. Quando abandonamos essa pretensão, deixamos de sofrer" (p 126).
"Um ser humano é tanto mais nobre quando maior for a sua capacidade de hospedagem ou de acolhimento. Quanto mais vazios de nós estivermos, mais caberá dentro de nós. O vazio de si, o esquecimento de si, é diretamente proporcional ao amor aos outros" (p 127).
"A meditação concentra-nos, devolve-nos a casa, ensina-nos a conviver com o nosso ser, fende a estrutura da nossa personalidade até que, de tanto meditarmos, esta fenda vai crescendo e a velha personalidade rompe-se e, como a flor, começa a emergir outra nova. Meditar é assistir a este fascinante e tremendo processo de morte e renascimento" (contracapa).

sábado, 26 de abril de 2014

Domingo II de Páscoa - ano A - 27 de abril de 2014

       1 – Cristo ressuscitou, como disse, Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos de alegria. Aleluia, aleluia. Grande alegria, a maior que o mundo tem, boa notícia da salvação, Jesus, crucificado, morto, sepultado, está vivo, está no meio de nós. Corações ao alto. O nosso coração está em Deus. É a nossa luz e a nossa salvação. O anúncio da Páscoa, que chegou a nossas casas, que levamos aos vizinhos, aos amigos, à família, chegou, naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro da nova criação, chegou e ressoou nos ouvidos dos apóstolos.
       As mulheres, manhã cedo, ainda escuro, nas primeiras horas do dia, mal se vislumbrava o caminho, foram ao sepulcro. E que viram elas? O sepulcro vazio? Diz-nos o nosso Bispo, D. António Couto, as mulheres, como os discípulos, encontram o sepulcro aberto, mas não vazio, "está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4), dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4), as faixas de linho no chão e o sudário enrolado noutro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens!"
       O Corpo, oferecido em Quinta-feira Santa, não foi roubado. Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos, para n'Ele nos inserir num tempo novo, recriado pela Sua graça e misericórdia. E os sinais tendem a multiplicar-se e a transformar aqueles que permitem que Deus se lhes revele. O túmulo abriu-se à luz, à esperança. É urgente que o nosso coração se abra também a esta luz.
       2 – Os sinais visíveis no túmulo aberto levam-nos para outro lugar. Finda a noite, é DIA, tempo de procurar Jesus. Melhor, é altura de deixar que Jesus nos encontre: em casa, no campo, a caminhar, no trabalho, na hora de refeição.
"Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
       O segundo Domingo de Páscoa, o Domingo da Misericórdia, traz-nos a dúvida e o medo de Tomé, bem visível nos demais discípulos, com dificuldade em encarar a claridade imensa da Luz do Ressuscitado. Pouco a pouco se abrem os nossos olhos e os nossos ouvidos. Deus não força. Deus não impõe nem Se impõe. Oferece-se como DOM de vida nova. Mas cabe-nos descobri-l'O, reconhecê-l'O, acolhê-l'O, e anunciá-l'O.
       A vida dos apóstolos, e dos discípulos, altera-se para sempre, em 180 graus. Viram e acreditaram. A mensagem liga Jesus ao tempo e à história. O Ressuscitado é o mesmo que o Crucificado. Também a Mensagem é a mesma: A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo. Eu vos envio a vós, para que vades e deis fruto em abundância.
       3 – A morte de Jesus provoca uma razia/crise entre os apóstolos. Judas que traiu. Pedro que negou. Discípulos que fugiram. Portas e janelas fechadas. Discípulos que regressam a suas casas e não à casa comum, onde se deveriam animar uns aos outros. Será necessário que se encontrem outra vez, todos, com/em Cristo Jesus.
       Tomé, na tarde daquele primeiro dia da nova criação, não estava. Os outros discípulos testemunham o que viram e ouviram. Tomé precisa de ver, precisa de encontrar-se com Jesus. O testemunho dos colegas é importante, despertando, pondo-o de sobreaviso, lançando incertezas às certezas (frustradas) de Tomé, convocando-o para voltar a casa, regressando à comunidade discipular.
       Oito dias depois, Jesus novamente no meio dos apóstolos. Também lá está Tomé. Estão juntos, em casa. As portas continuam fechadas. O medo permanece por algum tempo. Jesus coloca-se no meio. Jesus deve estar sempre no meio, da casa, da comunidade, ocupando o nosso coração e o nosso olhar, a nossa vida por inteiro. É Ele que verdadeiramente nos reúne, nos congrega, nos aproxima. Quanto mais perto estivermos d’Ele tanto mais perto estaremos uns dos outros, e quanto mais nos aproximarmos uns dos outros, mais visível se torna a Sua presença no meio de nós. Jesus traz a paz. Anunciada ao longo da Sua vida pública, é dada de novo na ressurreição.
       Diz Jesus a Tomé, e também a nós: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Perante Jesus Ressuscitado não há palavras que possam mostrar o desassombro. A profissão de fé de Tomé, breve, traz o coração às palavras: «Meu Senhor e meu Deus!». Ainda hoje é esta a oração e a profissão de fé que muitos católicos rezam diante do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o milagre maior da nossa fé. Jesus está vivo, entre nós, especialmente no Sacramento da Eucaristia, nas espécies do pão e do vinho.
       Jesus deixa-nos uma interpelação: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Há momentos na vida em que o essencial só é visível ao coração. A presença de Jesus, na maioria das vezes, só é palpável na simplicidade, um gesto de perdão, uma mão que se estende para outra mão segurar, uma carícia que salva, uma ferida limpa com amor, uma lágrima que se enxuga com carinho e atenção.

       4 – O CORPO de CRISTO, a Igreja, forma-se a partir da Sua Ressurreição. Ele está no meio, é o Guia, o Bom Pastor, a pedra rejeitada que Se tornou pedra angular (Salmo). Somos pedras vivas que se cimentam em Jesus, pelo Espírito Santo.
       Para que o corpo permaneça saudável precisa de cuidados, e de alimento, e de vigilância. Para que a Igreja, Corpo de Cristo, se conserve sã, precisa, antes de mais, de Se alicerçar em Cristo, amparando-se em outros pilares importantes.
       A comunidade de Jerusalém mostra-nos como ser Igreja. "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações... Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus…"
       Oração, escuta da Palavra de Deus, meditação, ensino dos Apóstolos, comunhão fraterna, fração do pão. Presença nos locais de culto. Comunidade que se ramifica na casa dos crentes, que exige a celebração e a partilha. A comunhão em Cristo pressupõe a comunhão com os irmãos. A comunhão com os irmãos pressupõe que também nos bens materiais existe entreajuda, conforme as necessidades.

       5 – Um dos alimentos para o Corpo Cristo é a escuta da Palavra de Deus, procurando que HOJE ela toque a nossa vida. Pedro, depois do encontro com Jesus Ressuscitado, toma a dianteira na pregação, no anúncio do Evangelho e das maravilhas que Deus operou, por Jesus Cristo, a favor de todo o povo, convocando-nos a viver em lógica de esperança, empenhando-nos na transformação do mundo.
       Aí está mais uma belíssima página da primeira Carta de São Pedro:
"Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece… Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas".
       Ressuscitámos com Jesus Cristo, e a nossa fé liga-nos para sempre à eternidade de Deus, mas porquanto é-nos dado viver no meio de provações. A luz que vem de Cristo há de atrair-nos também nos momentos de dor e de treva, até à alegria eterna, procurando antecipá-la e saboreá-la HOJE com as pessoas que Deus nos dá para cuidarmos e para cuidarem de nós.

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (A): Atos 2, 42-47; Sl 117 (118); 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31

Escola da Fé - Jovens Sem Fronteiras de Vila da Ponte

       Na dinâmica das Escolas de Vivência da Fé, mais uma "aula" de oração, de reflexão, de convívio, na comunidade paroquial de Tabuaço, com a presença dos Jovens Sem Fronteiras (JSF) de Vila da Ponte. Em dia de liberdade, 25 de abril, a certeza que o conhecimento, o amor, a oração, são fontes inesgotáveis para nos sentirmos livres e nos comprometermos uns com os outros. Os JSF, com o Luís Rafael, o Joel, e o João Pedro, trouxeram até nós uma dinâmica missionária. Depois de breve apresentação do movimento dos JSF, concretizando no de Vila da Ponte, tempo para a oração e para construir um puzzle a partir do símbolo da JMJ do Brasil, com as cores missionárias dos continentes: branco - Europa (paz, pureza); Verde - África (esperança...); vermelho - América (sangue, vida, amor); amarelo - Ásia (onde nasce o sol, evangelização); azul - Oceania (mar, água, batismo).
       Algumas imagens que traduzem mais este tempo de formação na Paróquia de Tabuaço:
Para outras fotos desta Escola da Fé
visitar a página da Paróquia de Tabuaço no facebook.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Frei Filipe - Retalhos da Vida de um Padre

FREI JOSÉ FILIPE RODRIGUES (2014). Retalhos da vida de um padre. Lisboa: Verso de Capa e Frei José Filipe Rodrigues. 175 páginas.
       Desde que soube da sua publicação que este livro se tornou leitura obrigatória. Retalhos da vida de um padre é também um blogue que sigo com muito interesse, e a presença no YOUTUBE. Frade e Padre dominicano, da Ordem dos Pregadores, de São Domingos de Gusmão, deixa-nos publicações diversificadas sobre a vida da Igreja, os Dominicanos, a vida em colégios ou no Convento de São Domingos de Lisboa, a presença assídua no Hospital de que é capelão.
       Nascido em Lisboa, o Frei Filipe tem as suas raízes em Feirão, no concelho de Resende (terra natal da Mãe), e Cotelo, no concelho de Castro Daire (terra natal do Pai), lugares onde regressa amiúde, nomeadamente nas férias grandes, no Verão, e que integram a nossa Diocese de Lamego. Mas há mais. Mosteiro de Clausura, de irmãs dominicanas, um pouco acima do Santuário dos Remédios e de que é Visitador, "obrigando-o" a deslocar-se a Lamego.
       O contexto das férias é-me muito familiar bem assim como as terras e os santuários, Ouvida, festas populares, São Cristóvão e Douro, as vacas, as sementeiras, as avessadas, os tamancos. Por falar em tamancos, num dos seus textos fala da minha povoação: MATANCINHA onde haveria um famoso tamanqueiro. Na falta deste, Magueijinha, onde ainda existe o Senhor Isidoro, mas como lhe falta a matéria-prima, lá tem que o frei Filipe procurar tamancos na Rua da Olaria na cidade de Lamego.
       Se afinidade das terras e dos contextos desta região, muitos outros temas tornam esta leitura apetecível e agradável: amor, morte, amizade, sofrimento, cruz, Espanha, Vaticano, Liturgia, Santos, Férias, Livros, Encontros, Oração, Deus, Filosofia, Dia do Pai, Família, através de muitas histórias que se cruzam na vida de Frei Filipe e deixam marcas. Momentos importantes com que o Padre Filipe cruza a vida das pessoas, a preparar festas da catequese e a celebrá-las, em batizados, em funerais, no hospital, no convento, nos Maristas, ajudando outros sacerdotes.
       Como o próprio vai referindo, é uma espécie de diário pelo qual se partilha a vida, se comunicam ideias, sonhos, esperança. Acreditamos que será uma leitura envolvente, com muitas confidências, desafios, propostas, desabafos, textos diversificados.

ENTREVISTA com o Frei FILIPE RODRIGUES:

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Páscoa da Ressurreição | Visita Pascal 2014

       A Páscoa, Ressurreição de Jesus Cristo, é, litúrgica e teologicamente, a festa mais importante da Igreja, dos seguidores de Jesus Cristo. É na celebração da Ressurreição que nasce, se forma e se aprofunda a comunidade cristã. Esta existe depois e por causa da Ressurreição de Jesus. A morte sem a Ressurreição seria uma perda de tempo, pois tudo ficaria como antes, ainda que pudesse ser um gesto de entrega, de oblação. Porém, a dádiva da vida de Jesus a Deus só faz sentido se Deus existe, se Deus garante que nem tudo foi em vão, garante que há mais vida para além da morte, há vida a partir do amor mais forte que a morte.
       As comunidades paroquiais deste espaço pastoral viveram a Páscoa com a celebração da Eucaristia solene, com a Procissão da Ressurreição e com a Visita Pascal de casa em casa, anúncio da Ressurreição. Em Tabuaço, Távora e Carrazedo a Visita Pascal realizou-se no próprio Domingo de Páscoa; em Pinheiros, e como tradicionalmente, realizou-se na segunda-feira de Páscoa.
       Algumas imagens deste DIA.

Tríduo Pascal 2014 | Vigília Pascal

       Uma das celebrações mais significativas, em todo o ano litúrgico, é a Vigília Pascal, enriquecida, nas paróquias onde é possível, com batizados. Não foi o caso da paróquia de Tabuaço. Em todo o caso a celebração da Vigília Pascal, em Sábado Santo, é expressão da liturgia da Igreja, com diversos momentos: bênção do lume novo e do Círio Pascal - Jesus é a Luz do Mundo -, liturgia da palavra, com algumas leituras do Antigo Testamento, ajudando a compreender por inteiro a história da salvação presente na história do povo eleito. Desemboca na Ressurreição de Cristo. Outro momento luminoso é a bênção da água batismal, que será usada nos batismo durante o tempo pascal. O terceiro momento traz-nos sacramentalmente Cristo Ressuscitado, que na Eucaristia nos oferece a Deus Pai, cuja comunhão fortalece a nossa vida e nos compromete com os outros.
       Algumas imagens desta celebração:
 Para mais fotos visitar a página da Paróquia de Tabuaço no facebook.

sábado, 19 de abril de 2014

Precónio Pascal: esta é a NOITE...

       Hoje celebra-se a grande Vigília Pascal, a noite que vislumbra a Ressurreição de Jesus e a comunica a todo o mundo. A celebração divide-se, complementando-se, em 4 grandes partes: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Baptismal e Liturgia Eucarística.
       Na Liturgia da Luz, a bênção do Lume novo, com o Círio Pascal, símbolo de Cristo, Luz do mundo. Esta parte termina com a proclamação do Precónio Pascal, que apresentamos em baixo.
       Na Liturgia da Palavra escutaremos a narração dos grandes acontecimentos do Povo eleito, com as alianças que Deus realiza com o povo, em que Deus responde com misericórdia e bênção à infidelidade e pecado da humanidade.
       Na Liturgia Baptismal, a bênção da água, que será aspergida sobre a assembleia celebrante e que servirá para os Baptismos celebrados nesta noite e durante o tempo pascal. A água recorda-nos que do lado aberto de Jesus, brotando sangue e água, brotou o Sacramento do Baptismo. É na morte de Jesus e na Sua ressurreição que somos baptizados.
       Na Liturgia Eucarística, celebrámos o mistério maior da nossa fé, antecipado por Jesus para a Quinta-feira santa, no memorial da Última Ceia, mas realizado com a Sua morte e ressurreição.
 Precónio Pascal:
       Exulte de alegria a multidão dos Anjos, exultem as assembleias celestes, ressoem hinos de glória para anunciar o triunfo de tão grande Rei. Rejubile também a terra, inundada por tão grande claridade, porque a luz de Cristo, o Rei eterno, dissipa as trevas de todo o mundo.
       Alegre-se a Igreja, nossa mãe, adornada com os fulgores de tão grande luz, e ressoem neste templo as aclamações do povo de Deus.
       [E vós, irmãos caríssimos, aqui reunidos para celebrar o esplendor admirável desta luz, invocai comigo a misericórdia de Deus omnipotente, para que, tendo-Se Ele dignado, sem mérito algum da minha parte, admitir-me no número dos seus ministros, infunda em mim a claridade da sua luz, para que possa celebrar dignamente os louvores deste círio] .
[V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.]
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
       É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação proclamar com todo o fervor da alma e toda a nossa voz os louvores de Deus invisível, Pai omnipotente, e do seu Filho Unigénito, Jesus Cristo, nosso Senhor.
       Ele pagou por nós ao eterno Pai a dívida por Adão contraída e com seu Sangue precioso apagou a condenação do antigo pecado.
       Celebramos hoje as festas da Páscoa, em que é imolado o verdadeiro Cordeiro, cujo Sangue consagra as portas dos fiéis.
       Esta é a noite, em que libertastes do cativeiro do Egipto os filhos de Israel, nossos pais, e os fizestes atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho.
       Esta é a noite, em que a coluna de fogo dissipou as trevas do pecado.
       Esta é a noite, que liberta das trevas do pecado e da corrupção do mundo aqueles que hoje por toda a terra crêem em Cristo, noite que os restitui à graça e os reúne na comunhão dos Santos.
       Esta é a noite, em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, Se levanta vitorioso do túmulo. De nada nos serviria ter nascido, se não tivéssemos sido resgatados.
       Oh admirável condescendência da vossa graça! Oh incomparável predilecção do vosso amor! Para resgatar o escravo, entregastes o Filho.
       Oh necessário pecado de Adão, que foi destruído pela morte de Cristo! Oh ditosa culpa, que nos mereceu tão grande Redentor!
       Oh noite bendita, única a ter conhecimento do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro!
       Esta é a noite, da qual está escrito: A noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz.
       Esta noite santa afugenta os crimes, lava as culpas; restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes; derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz.
       Nesta noite de graça, aceitai, Pai santo, este sacrifício vespertino de louvor, que, na solene oblação deste círio, pelas mãos dos seus ministros Vos apresenta a santa Igreja.
       Agora conhecemos o sinal glorioso desta coluna de cera, que uma chama de fogo acende em honra de Deus: esta chama que, ao repartir o seu esplendor, não diminui a sua luz; esta chama que se alimenta de cera, produzida pelo trabalho das abelhas, para formar este precioso luzeiro.
       Oh noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!
       Nós Vos pedimos, Senhor, que este círio, consagrado ao vosso nome, arda incessantemente para dissipar as trevas da noite; e, subindo para Vós, como suave perfume, junte a sua claridade à das estrelas do céu. Que ele brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso: Jesus Cristo vosso Filho, que, ressuscitando de entre os mortos, iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos.

R. Amen.

Páscoa da Jesus Cristo - 20 de abril de 2014

       1 – "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria". É o DIA maior da nossa fé, o Dia do Senhor, Domingo da nossa salvação. Em Jesus, Deus recria a humanidade desgastada pelo pecado, imergindo-a na Sua morte, para com Ele nos ressuscitar. "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: e é admirável aos nossos olhos". Aquele que foi morto, está vivo, voltou para nós. Por momentos roubaram-nos a Luz, ficamos, como discípulos, adormecidos na noite, nas trevas, desenganados. Pensávamos, como discípulos de Emaús, que Ele seria a nossa esperança, a esperança para todo o povo. Acompanhamo-l'O ao Calvário, vimos como foi violenta a Sua morte. O mensageiro da paz, da justiça e da igualdade entre todos, como filhos bem-amados de Deus, afinal foi mais uma vítima da história, dos poderes instituídos, vítima da própria religião. Quando demos por nós já Ele dava o último suspiro.
       Regressámos a nossas casas, recolhemo-nos, assustados, enrolados sobre o nosso medo. Fechamos portas e janelas, fechamos o nosso coração ferido pelo suplício da Sua cruz. Nem queríamos acreditar! Como foi possível que matassem um homem justo? Como é que Deus, que Ele anunciava como Pai misericordioso e compassivo, deixou que Lhe acontecesse uma coisa destas? Pregava que os últimos seriam os primeiros, como é que Se tornou definitivamente um dos últimos e não protestou contra os que lhe batiam e arrancavam a barba (cf. Is 50, 6)?
       Mas afinal, o que é que correu mal? Não dizia Ele que tinha de acontecer para Se manifestar a glória de Deus? Cumprir-se-iam as Escrituras, mas este "é já o terceiro dia depois que isto aconteceu" (cf. Lc 24, 13-35). Onde está Aquele sobre Quem desceu o Espírito de Deus, para anunciar a Boa Nova aos pobres e libertar os cativos e proclamar um ano favorável da parte do Senhor, cumprindo a profecia de Isaías (cf. Lc 4, 16-21)?
       Manhã cedo, o primeiro Dia da Semana, ainda escuro, uma das mulheres que acompanhavam e serviam Jesus, Maria Madalena, foi ao sepulcro e viu a pedra retirada. Mais um contratempo: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Já não bastava terem morto o Mestre, ainda nos roubam o Seu corpo. Era tempo de fazer o luto e mais um sobressalto!
       2 – "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria".
       Pedro, um dos discípulos mais genuínos, mais espontâneo, e o discípulo amado, que não tendo nome, poderá ser cada um de nós, se tivermos a humildade de nos inclinarmos sobre o peito de Jesus, para O escutar, correm para ver o que terá acontecido com o corpo de Jesus. E o que veem quando chegam ao sepulcro? "As ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte". Nada de sobrenatural. Só então começam a entender a "Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos", e que o Próprio, em diversas ocasiões, tinha anunciado. Será então verdade? Ao debruçarem-se e ao entrar no sepulcro, acreditaram no que Jesus lhes tinha dito anteriormente. Foi para este dia, o mais santo, o Dia do Senhor, que Jesus os preparou. Certos que a imensa Luz da Páscoa não anula a fragilidade e a dureza dos nossos dias, mas um lampejo de esperança poderá ser suficiente para que as trevas e o desencanto não ocupem o lugar da vida e da felicidade, como caminho a percorrer, com esforço e sacrifício, por vezes, mas conscientes que Jesus venceu a morte e nos introduz na vida divina.
       Desde então, as portas começaram a abrir-se. Os discípulos deixam de estar dobrados sobre si mesmos, a reclamar com vida, a protestar com Deus, a interrogar-se sobre o desenrolar dos acontecimentos, para pouco a pouco deixarem que a Luz de Cristo inunde toda a casa, toda a sua vida e lhes solte a língua para proclamem o Evangelho a todos os povos, fazendo discípulos.

       3 – "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria". Este é o dia em que Jesus nos convoca, na esperança, a uma nova vida. Somos novas criaturas. Fomos batizados na Sua morte e, sobretudo, na Sua Ressurreição, recebemos a graça do Espírito Santo, para integrarmos o Seu Corpo, que não nos foi roubado, mas oferecido como oblação pelos nossos pecados e nos foi devolvido, para formarmos o Seu Corpo que é a Igreja, da qual somos membros. O Corpo de Jesus Cristo é-nos dado especialmente na Eucaristia, dom da vida nova, sacramento da caridade. Comungando do mesmo Pão, do mesmo Corpo, para verdadeiramente formarmos um só Corpo, o de Cristo Jesus, como irmãos.
       "Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória".
       Na segunda leitura, escutámos este desafio do Apóstolo, na certeza que a vida nova que recebemos em Cristo, ressuscitando com Ele, nos há de conduzir a uma postura renovada, semelhante à d'Ele, procurando descobrir nos outros a presença de Deus, afeiçoando-nos às coisas do alto, não para fugirmos da responsabilidade que a eles nos liga mas para que sejam mais puros os nossos compromissos e para não nos deixarmos abater pelas adversidades. Se confiarmos apenas nas nossas forças, poderemos facilmente cair na idolatria, na arrogância e no desânimo, conforme as coisas corra bem ou mal. De olhar fito em Deus não corremos o risco nem da prepotência nem do desânimo definitivo, qual poço sem fundo.
       4 – Destemidamente, São Pedro, corrigindo o caminho que o levou a negar o Mestre, inundado com a Luz da Fé, a Luz da Ressurreição, torna-se um valoroso testemunho de tudo o que sucedeu a Jesus: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se¬, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
       Também de Pedro se poderia dizer o mesmo que de Jesus: "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: e é admirável aos nossos olhos", se bem que neste caso foi o próprio que se tornou pedra de tropeço, ainda que Jesus o quisesse e preparasse para ser a pedra sobre a qual funda a Sua Igreja. "Tudo isto é admirável a nossos olhos". O Senhor está connosco, entre nós, para que nada nos distraia da vida. "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria".

       5 – Por fim, mas não menos importante, a presença luminosa das mulheres, junto à Cruz, junto ao sepulcro, sempre perto de Jesus, para O servir, para darem testemunho acerca d’Ele até junto dos Seus apóstolos. Mulheres e Mães custodiam a vida. Eva, a primeira Mulher, a mãe de todos os viventes. Maria, a nova Eva, Mãe de todos os crentes em Cristo. Desde o primeiro dia da criação, desde o “dia que o Senhor fez”, na primeira hora do dia, ainda escuro, as mulheres (ou na versão joanina, Maria Madalena), na vida e na morte, se mantêm perto de Jesus. Maria, Mãe de Jesus, com o seu SIM coopera com Deus, iniciando-se a nova criação. Firme, com outras mulheres, Nossa Senhora reúne à sua volta dos discípulos desiludidos, mantendo acesa a chama da esperança em Deus, em clima de oração.
       Serão as mulheres as primeiras testemunhas da Ressurreição, as primeiras a sentirem a proximidade de uma vida nova, as primeiras a acolher Jesus vivo.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 10, 34a, 37-43; Sl 117 (118); Col. 3, 1-4; Jo 20, 1-9.

Sexta-feira Santa | Adoração da Santa Cruz

       Sexta-feira Santa, Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. As celebrações repetem-se um pouco por todo lado. Em algumas comunidades é neste dia que se realiza a Via-sacra (neste espaço pastoral, na Paróquia de Carrazedo e na Paróquia de Pinheiros), em outras comunidades segue-se o proposto para o dia da Paixão do Senhor, com os três momentos: Liturgia da Palavra, com a leitura do Evangelho da Paixão, segundo São João; Adoração da Santa Cruz, e Comunhão Eucarística - neste espaço nas paróquias de Távora e de Tabuaço.
       Na paróquia de Tabuaço, continua a ser um dia muito significativo, com a presença luminosa de crianças e jovens e adultos, várias gerações de cristãos que participam nestes dias de Páscoa. Aí estão algumas imagens que retrato os vários momentos da celebração: Liturgia da Palavra - Adoração da Santa Cruz - Comunhão - Procissão do Senhor morto para a Capela de Santa Bárbara:
Para outras fotos visitar a página da Paróquia de Tabuaço no facebook.