sexta-feira, 23 de junho de 2017

Quando nos zangamos por nada!...

       1 – Muitas vezes zangamo-nos por muito pouco ou mesmo por nada.
       Por uma palavra fora do contexto, por um gesto a mais ou a menos, por uma ideia ou uma perspectiva diversa. Em quantas situações entramos em conflito e acabamos, no final, por nem saber aonde começou, o motivo que o desencadeou, ou como chegamos àquele ponto.
       Acontece-nos a todos. Acontece até estarmos a falar do mesmo, a concordarmos uns com os outros e discutirmos porque utilizamos uma ou outra palavra diferente, ainda que tenha o mesmo sentido.
       A discussão, só por si, não é negativa. Pode ser muito produtiva, ajudar-nos a crescer, a aprender, a caminhar com os outros. E isso acontece também: num primeiro momento barafustamos, e depois a frio verificámos que afinal até podemos não ter a razão toda, ou até ter pouca razão.
       Aqui pode residir a sabedoria, a capacidade de aceitar os limites e de aproveitar o contributo do outro, assentando desde logo que numa discussão partimos todos com a certeza dos nossos pontos de vista. Senão, não haveria discussão!
       Contudo, há discussões e discussões, nem todas têm a mesma amplitude. Umas e outras deixam mazelas e podem afastar-nos para sempre dos outros, quando não admitimos que poderemos estar errados, quando não nos pomos no lugar do outro, vem a altercação e posteriormente a ofensa e a ruptura.
       Por outro lado, o discordar de alguém também não é negativo, é sinal que pensamos por nós e não vamos simplesmente na corrente. O discordamos de alguém não implica ruptura, antes pelo contrário pode ser um motivo extra para conhecermos melhor os outros e enriquecermos o "nosso vocabulário" humano.

       2 – A determinada altura da vida, Jesus, na Sua pregação itinerante, apresenta-Se como o Pão da Vida, o alimento para a vida eterna, implica os seus discípulos no confronto com a verdade e a exigência do seguimento. Eles compreendem o alcance das Suas palavras: "Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?" ... "E a partir de então – diz o Evangelho – muitos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele" (Jo 6, 60-69).
       Saliente-se a opção destes discípulos, não concordando deixam o seguimento. A Jesus não se Lhe ouvem palavras de recriminação, tão-somente o acentuar das convicções e das opções dos demais discípulos: "Também vós quereis ir embora?"
       Seria bom reflectirmos sobre isto: a verdade deve libertar-nos sem medo de perdermos os que nos são próximos. Aquela não deve ser desculpa para o afastamento, mas a proximidade também não deve servir de escusa para a verdade. Não devemos aligeirar as nossas convicções somente com receio de incomodarmos os outros, ou pelo desconforto que podem provocar as nossas palavras. Devemos, isso sim, ter a generosidade de afirmarmos o que somos, em todas as circunstâncias, e de admitirmos que os outros também podem ter razão…

Editorial, Voz Jovem, n.º 88, Junho 2007

2 comentários:

  1. Pois é...
    A razão?Há tantas razões, tantos limites, tanta coisa desconhecida em cada "razão" que muitas vezes vale mais ficar no respeito pelo ser humano e ver mais longe que a razão.

    É certo ás vezes ferve-se em poca água e depois fica tudo em "águas de bacalhau," mas reconhecer os nossos erros é muito positivo e leva-nos a crescer interiormente.
    Abraço amigo em Cristo
    Utilia

    ResponderEliminar
  2. Sem dúvida.
    A pessoa humana é mesmo uma caixa de surpresas, um mistério grandioso. Por mais que conheçamos uma pessoa ela sempre nos pode surpreender, porque afinal tanta coisa a poderá mover para lá de todas as razões patentes.
    Um bom dia.
    Abraço em Cristo Jesus.

    ResponderEliminar