quarta-feira, 8 de março de 2017

São João de Deus, religioso

       João Cidade, mais tarde João de Deus, nascido, em Montemor-o-Novo, por volta de 1495 falecido, em Granada, em 1550.
       Foi para Espanha com 8 anos para uma vida de aventura, tendo sido pastor em Oropesa, por duas vezes, e outras tantas soldado.
       Após algum tempo a trabalhar nas muralhas de Ceuta, prodigalizando-se a socorrer uma família aristocrata ali exilada, foi livreiro ambulante no Sul de Espanha, fixando-se em Granada, em 1537.
       Por volta do ano de 1538 converteu-se a uma vida cristã radical ao ouvir um sermão de São João de Ávila. Abraçou, com muita emoção, comportamentos penitenciais que alguns interpretaram como loucura, levando-o a ser internado no Hospital Real de Granada, onde foi tratado com os métodos violentos da época.
       A experiência de ver tratar tão mal os loucos do Hospital Real maturou o desejo de os vir a tratar com humanidade. Após peregrinação a Guadalupe, dedicou-se a assistir pobres e doentes sem abrigo. Contra todas as práticas da época passou a assisti-los num pequeno hospital na Rua Lucena, o qual, por se tornar pequeno para os 120 doentes e pobres, teve que mudar para outro edifício, em que pôde assistir 200 internados.
       Eram hospitais não apenas para assistência mas para tratamentos. Tinham médico, boticário (farmacêutico), enfermeiros e capelães. O Hospital de São João de Deus, por dispor deste corpo de profissionais, pela separação dos doentes por doenças e pela atribuição de uma cama por doente, é justamente considerado um hospital moderno.
       Juntaram-se-lhe alguns companheiros de hábito, que formaram o núcleo fundador da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. Sisto V, em 1 de outubro de 1586, aprovou a congregação como Ordem Mendicante, apesar de ser formada por irmãos leigos. Ainda no final do séc. XVI os Hospitaleiros começaram rapidamente a difundir-se pelas cidades de Andaluzia chegando até Madrid.
       São João de Deus é proclamado, em 27 de maio de 1886, em conjunto com São Camilo de Lélis, patrono dos doentes e seus hospitais e, em 28 de agosto de 1930, igualmente com São Camilo de Lélis, patrono dos enfermeiros e suas associações.
       A Ordem está hoje presente em 50 países dos cinco continentes, com cerca de 300 hospitais e obras assistenciais.
       São João de Deus, que a Igreja evoca a 8 de março, foi beatificado em 1630 e canonizado em 1690.

Oração de coleta: 
       Senhor, que infundistes no coração de São João de Deus um grande espírito de caridade, concedei-nos que, praticando as obras de misericórdia, mereçamos ser recebidos entre os eleitos no reino da glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

São João de Deus, religioso 

Cristo é fiel e tudo provê 

Se consideramos atentamente a misericórdia de Deus, nunca deixaremos de fazer o bem de que formos capazes: com efeito, se damos aos pobres por amor de Deus aquilo que Ele próprio nos dá, Ele promete-nos o cêntuplo na felicidade eterna. Feliz pagamento, ditoso lucro! Quem não dará a este bendito mercador tudo o que possui, se Ele procura o nosso interesse e, com os braços abertos, insistentemente pede que nos convertamos a Ele, que choremos os nossos pecados e tenhamos caridade para com as nossas almas e para com o próximo? Porque assim como o fogo apaga a água, assim a caridade apaga o pecado.
Vêm aqui tantos pobres, que até eu me espanto como é possível sustentar a todos; mas Jesus Cristo a tudo provê e a todos alimenta. Vêm muitos pobres à casa de Deus, porque a cidade de Granada é muito fria, e mais agora que estamos no Inverno. Entre todos – doentes e sãos, gente de serviço e peregrinos – há aqui mais de cento e dez pessoas. Como esta casa é geral, recebe doentes de todos os géneros e condições: tolhidos, mancos, leprosos, mudos, dementes, paralíticos, tinhosos, alguns já muito velhos e outros muito crianças ainda, e por cima disto muitos peregrinos e viajantes, que cá chegam e aqui encontram lume, água, sal e vasilhas para cozinhar os alimentos. E para tudo isto não se recebe renda especial, mas Cristo a tudo provê.
Desta maneira estou aqui muito empenhado e prisioneiro por amor de Jesus Cristo. Vendo-me tão carregado de dívidas que já mal me atrevo a sair de casa, e vendo tantos pobres, irmãos e próximos meus, sofrerem para além das suas forças e serem oprimidos por tantos infortúnios no corpo ou na alma, sinto profunda tristeza por não poder socorrê-los, mas confio em Cristo, que conhece o meu coração. Por isso digo: maldito o homem que confia nos homens e não em Cristo somente; porque dos homens hás-de ser separado, queiras ou não queiras; mas Cristo é fiel e permanece para sempre, Cristo tudo provê. A Ele se dêem graças para sempre. Ámen.

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