domingo, 14 de agosto de 2016

Assunção de Nossa Senhora ao Céu - 15.agosto.2016

       1 – "Deus eterno e omnipotente, que elevastes à glória do Céu em corpo e alma a Imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, concedei-nos a graça de aspirarmos sempre às coisas do alto, para merecermos participar da sua glória".
       A oração que rezamos na Eucaristia neste dia condensa o que celebramos, desafiando-nos a fixarmo-nos na meta, a glória de Deus, onde já se encontra coroada como Rainha, ornada do ouro mais fino, Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Ela, Virgem Imaculada, deu-nos Jesus Cristo, Rosto e Transparência da Misericórdia do Pai. Com Ela aprendemos a acolher e a gerar Jesus. N'Ela, Deus mostra-nos como chegar à Sua glória. Ela é a Porta do Céu, a Estrela da Manhã, o Refúgio dos pecadores. Deus quis que a honrássemos, acolhendo-A como Mãe. No seu SIM, o nosso sim.
       2 – É muito ilustrativo que o Evangelho escolhido para este dia solene seja o da Visitação. A cheia de Graça, que achou graça diante de Deus, corre apressadamente para a montanha ao encontro da Sua prima Santa Isabel, que se encontra grávida, também por uma intervenção extraordinária de Deus. Maria corre como mensageira de boas novas.
       São Lucas põe-nos a correr com Maria. Por um lado, a pressa em auxiliar quem se encontra mais frágil. Por outro, a alegria do evangelho é o verdadeiro motivo daquela pressa, como muitas vezes tem sublinhado o nosso Bispo, D. António Couto. Com efeito, Maria corre para se encontrar com Isabel e nesse encontro a alegria e o louvor vêm ao de cima. Isabel extravasa tal júbilo: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
       A resposta de Maria surge em forma de oração, o Magnificat, louvando Deus: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre».
       Logo depois a informação do evangelista de que Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e regressou a sua casa. Nem terá esperado pelo nascimento de João Batista, que é narrado depois. Esta estadia e este tempo evocam a presença da Arca da Aliança, cerca de três meses, na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,11) antes de ser transportada para a cidade santa.
       3 – A palavra de Deus convoca-nos a ser, como Maria, anunciadores da Boa Notícia da salvação. Cristo está a chegar. Há de chegar connosco. Com as palavras que trazemos e com a vida que geramos, com o fruto que multiplicamos, partilhando o que temos e o que somos.
       No evangelho da vigília, uma mulher, do meio da multidão, diz a Jesus: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Logo Jesus lhe lembra, e a nós também: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27-28).
       Por aqui se compreende que o privilégio único de Maria, a Imaculada Conceição, é, em parte, partilhável connosco. Deus cria-nos por amor e por amor nos sustenta. A Encarnação é a favor de toda a humanidade. O universal só é tangível no particular e no concreto. Deus dá-Se por inteiro assumindo a fragilidade humana, com o concurso da Virgem Imaculada, que Ele prepara desde sempre. Deus também conta connosco para gerarmos Jesus Cristo e comunicarmos a alegria do Evangelho, através da nossa vida e da nossa voz.
       Jesus clarifica as condições que fazem de nós a Sua família. Escutar a Palavra de Deus e agir em conformidade com a vontade de Deus. Desta forma nos tornamos Seus familiares.
       Maria escuta a Voz de Deus, pelo Anjo Gabriel, e põe-se em campo, rapidamente, para levar Jesus mais longe, para O dar a conhecer. Ainda Se desenvolve no seu ventre e já Ela quer que outros experimenta a Alegria pela presença de Deus no mundo!
       4 – Maria é Mãe de Jesus. É Mãe da Igreja. É nossa Mãe. É Estrela que nos guia. É esperança que nos fortalece no nosso peregrinar. É consolo nas tribulações. É a Casa em que nos podemos encontrar como irmãos e descobrir como família. Ela precede-nos no acolhimento de Jesus, gera-O no seu ventre virginal, partilha-O para que outros possam experimentar a Alegria de se encontrarem com Deus. O Sim ao Anjo vai sendo atualizado na delicadeza e na atenção aos que necessitam de mais cuidado, a Sua prima Isabel, os noivos de Caná da Galileia, na proximidade a Jesus, ao longo da Sua vida pública, mas com maior visibilidade na via-sacra e junto à Cruz. Sempre perto para acudir, para acolher o olhar de Jesus, para Lhe dar força, encorajando-O. É-lhe confiado após a morte. Primeiro, Deus confia-lhe o Seu Filho, que Ela acolhe no seu ventre e depois no seu colo de Mãe. Depois, entregam-lhe o Filho morto, que mais uma vez toma em seus braços. Segue-O para o túmulo onde o seu corpo é depositado. Espera-O, em casa, congregando os discípulos em oração. Está lá, quando Jesus aparece ressuscitado e Se coloca no Meio dos Seus discípulos!
       A Igreja é o Corpo de Cristo, do qual Ele é a Cabeça e nós os membros. Maria é a Mãe da Igreja, pois é a Mãe de Jesus. Não é Mãe de uma parte, mas Mãe de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Ela é também a primeira discípula de Jesus. Começa a sintonizar com Ele, quando silenciosamente Se forma no seu ventre. Não cessará de O escutar, de O seguir, como víamos, até ao fim, até à eternidade.
       No livro do Apocalipse, a belíssima imagem da Mulher coroada de 12 estrelas. É a imagem da Igreja, mas também identificada com Maria, aquela que gera e dá à luz o salvador do mundo. "Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade… Ela teve um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro... E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido».
       Maria abre o mundo para Deus nascer em nós e nascer como um de nós, na nossa carne humana. Cristo, com a Sua ressurreição, abre-nos o Céu, para o Qual Maria foi elevada e nós, no seu devido tempo, também o seremos.

       5 – O reino novo, onde todos cabem, a mesa para qual todos são convidados, começa a irromper. A vida e sobretudo a morte e ressurreição de Jesus abrem-nos em definitivo, de par em par, as portas do Céu, dando-nos livre-trânsito para a misericórdia divina. Já não caminhamos às apalpadelas pelo escuro da noite, mas à plena Luz do dia. Jesus é a nossa luz, que nos ilumina e nos guia para o Pai.
       No seio de Maria, revestida de graça, Deus abaixou-Se, fazendo-Se um de nós, Jesus Cristo, Deus humanado, diminui-Se para que O possamos ver, O possamos amar, O possamos seguir, e, no final, vamos perceber, até O podemos perseguir, injuriar, podemos matá-l'O. Mas não podemos destruir o Seu amor por nós. Deus Pai O ressuscita, ressuscitando o Seu projeto de vida nova e bela, para gerar fraternidade, contando connosco.
       São Paulo, a quem um dia Jesus surpreendeu, não cessa de anunciar Jesus, morto e ressuscitado: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?» (1 Cor 15, 54b-57). "Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida".
       A solenidade da Assunção, permite-nos, como filhos diletos, honrar a Virgem Mãe, procurando escutá-l'A para cumprirmos com alegria o seu mandato: "Fazei tudo o que Ele vos disser". E se fizermos tudo o que Ele nos disser, será para nosso bem. Assumindo-O em vida, como Maria, Ele nos assumirá na eternidade, junto do Pai, como a Maria, Sua e nossa Mãe.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia: Ap 11, 19a; 12, 1-6a. 10ab; Sl 44 (45); 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56.

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