terça-feira, 28 de junho de 2016

Solenidade de São Pedro e São Paulo - 29 de junho

       1 – Pedro e Paulo: dois rostos bem conhecidos do cristianismo, no início da Igreja e na atualidade, ensinando-nos HOJE a necessidade de conversão – permanente – a Jesus Cristo, respeitando contextos, pessoas e culturas. O ambiente em que nascem e se convertem é distinto, como o tempo em que acontece; diferentes estilos e temperamentos, e a missão de cada um.
       O essencial é comum: confronto com Jesus Cristo, diante do Qual colocam a própria vida para se aproximarem d'Ele e do Seu projeto de amor e de vida nova; conversão; fidelidade ao Evangelho, de tal forma que há de prevalecer o mandato de Cristo e não as sensibilidades pessoais; inculturação do Evangelho, respeitando as culturas onde anunciam Jesus Cristo. Um e outro dão a vida pela causa do Evangelho, sofrendo a perseguição, a calúnia, a prisão e a morte.
       Cedo a Igreja começou a celebrar conjuntamente o martírio dos dois apóstolos, na cidade eterna, Roma, que se torna, também por isso, a referência para as outras Igrejas, pois é sustentada pelo seu sangue. O chão de Roma foi coberto e encobriu o sangue de muitos mártires. Pedro e Paulo visualizam o sacrifício de muitos cristãos, que, como eles, na vida e na morte, anunciaram Jesus Cristo.
       2 – São Pedro é um dos apóstolos da primeira hora. André e o discípulo amado seguem Jesus, depois de João Batista os desafiar a seguirem o Messias. Pergunta-lhes Jesus: "Que procurais?". Eles respondem com outra pergunta: "Rabi, onde moras?" Jesus convida-os a ir e ver com os próprios olhos Quem é o Messias, a Sua identidade, a Sua missão, onde habita, ou Quem O habita. Logo depois, André foi ter com o seu irmão Simão Pedro dizendo-lhe que encontraram o Messias (cf. Jo 1,35-42). Desde então e até ser martirizado, Pedro não mais se afasta de Jesus, a não ser no momento do julgamento e morte, cujo medo o paralisa e o leva a negar o Mestre.
       Pedro é um dos apóstolos mais genuínos. Tem o coração ao pé da boca. Diz o que lhe dá na real gana, merecendo o reparo de Jesus. Está sempre pronto. O que diz nem sempre tem a devida correspondência nas atitudes. A sua espontaneidade traz-lhe alguns dissabores, facilmente se espalha. Gera simpatia, ainda que com muita ingenuidade. É um homem de ação, de trabalho. Confia nas pessoas. Não necessita de muito para lançar as redes ao mar, mesmo sendo um pescador experiente e sabendo que a pesca já se tinha concluído naquele dia; lança-se ao encontro de Jesus, ainda os barcos não estão em terra firme. Caminha sobre as águas, mas logo se afunda, pois a sua fé é transparente, mas não muito firme. É impulsivo. Reage por tudo e por nada. Fere um dos guardas que prendem Jesus. E mais um reparo do Mestre. Jesus anuncia que vai ser morto e logo se dispõe a defendê-lo com a própria vida. Depois, na hora mais difícil, vacilará.
       Quando advêm as dificuldades, com a mesma facilidade com que confessa Jesus, também O nega e se afasta dos perigos. Terá de ser temperado pela experiência, pela luz da fé, revendo a sua própria vida e as suas escolhas, para que seja efetivo o amor a Jesus, procurando segui-l'O de perto (cf. Jo 21, 15-19).

       3 – O Evangelho traz-nos a primeira Profissão de Fé do Apóstolo sobre quem Jesus sustentará a Sua Igreja. Não é uma confissão de fé da antiguidade cristã, é atual, há de ser a afirmação da nossa fé em Cristo Jesus. Pedro não responde apenas em nome pessoal, responde em nome dos Doze, em nome da comunidade. E hoje? Hoje a pergunta bate-nos diretamente. Não podemos assobiar para o lado como se não fosse nada connosco.
       Num primeiro momento, Jesus pergunta sobre o que se ouve acerca d'Ele. Ambienta a pergunta seguinte: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Que importância tenho na vossa vida? De que forma se alteram as vossas escolhas por serdes meus discípulos?
       O que dizem os outros pode ajudar a compreender e até a procurar novas respostas. Mas não chega. É necessário o encontro com Ele e uma resposta pessoal, ainda que voltada para a comunidade.
       Pedro, sem hesitações, responde, também em nosso nome: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Veremos, por vários incidentes, que a firmeza de Pedro não é definitiva, ele terá que corrigir algumas vezes a ligação a Jesus Cristo. Em todo o caso, Jesus aposta nele, com as suas limitações e com as suas possibilidades. Deus não chama santos. Deus chama pessoas, de carne e osso, que podem e devem tornar-se santos, isto é, fazer com que as suas vidas valham a pena.
«Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Curiosamente, logo à frente Jesus repreenderá Pedro por se ocupar mais dos próprios interesses do que da vontade de Deus. Como não nos revermos na vida de Pedro?! Como ele, estamos a caminho, umas vezes hesitando, outras vezes, e na prática, negando conhecer Jesus, outras tantas, procurando identificar-nos com o Seu amor.
       4 – São Paulo é um apóstolo mais tardio, não faz parte do grupo dos Doze, nem sequer está entre os discípulos que acompanham Jesus na Sua vida terrena, nem tampouco é discípulo dos apóstolos. Inicialmente é perseguidor de cristãos.
       Na primeira leitura, podemos constatar como os discípulos e a Igreja se submetem à perseguição e à prisão. Pedro é um dos que vai parar à prisão. A figura de Paulo surge a primeira vez no julgamento e morte de Estêvão, que ele testemunha e aprova (cf. Atos 8, 1-3).
       A conversão não é igual para todos e poderá ocorrer em diferentes idades. Enquanto vivermos, estamos sempre a tempo de nos convertermos a Jesus Cristo. Pedro vai amadurecendo perto de Jesus. Paulo vai amadurecendo, na procura da verdade, longe de Jesus. Melhor, perto de Jesus, mas em sinal contrário, perseguindo-O nos seus discípulos. Quando se dá a conversão, que nos é apresentada como espontânea e repentina (cf. Atos 22, 3-16), vê-se como Paulo está perto de Jesus. Jesus responde-lhe: Eu sou Aquele a Quem tu persegues. A perseguição de Paulo leva-o a encontrar-se com o Perseguido. Num sentido positivo, devemos ter o mesmo cuidado em (per)seguir Jesus, para que nos alcance o coração, por inteiro, como aconteceu com Paulo.
       Zelo na perseguição, zelo na pregação. A partir de Damasco, nunca mais descansará, oportuna e inoportunamente pregará Cristo, indo sempre mais à frente, mais longe, onde humanamente lhe é possível. Inverte completamente a lógica anterior, tornando-se, como Cristo, perseguido, em diversas ocasiões. Não desiste. Nem a espada, nem a morte, o hão de separar do amor de Deus que quer que todos conheçam.

       5 – Na segunda leitura, vemos como o Apóstolo da Palavra confessa uma vida dedicada à causa do Evangelho, procurando em tudo a glória de Deus:
«Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos».
       No final, o Apóstolo tem consciência que gastou a sua vida para viver e testemunhar Jesus Cristo. Por isso nada teme. Confia. Na vida como na morte, conta com o amor de Deus.
       6 – Que mais nos poderão dizer Pedro e Paulo? Como cristãos, sendo diferentes uns dos outros, na idade, na sensibilidade, na formação, todos podemos ser santos, discípulos e apóstolos. Todos temos algo a dar, se antes recebermos Jesus, acolhendo-O também nos outros.
       A determinada altura houve uma discussão entre os dois, sobretudo na forma como o cristianismo deveria expandir-se, levando as tradições judaicas, ou criando novas formas de vivência. O testemunho, o diálogo, e até o confronto entre as duas sensibilidades, mostra a profundidade da fé e o valor da oração. Prevalece a Palavra de Deus. Prevalece o Evangelho. Prevalece Jesus Cristo.
       O ponto de partida pode ter sido diferente. Pedro de início, Paulo já depois da morte e ressurreição de Jesus. A missão de cada um foi diversa. Pedro primeiramente junto dos judeus. Paulo sobretudo junto dos pagãos. No final, os dois apóstolos dão a vida por Jesus. Por inteiro.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia: Atos 12, 1-11; Sl 33; 2 Tim 4, 6-8. 17-18; Mt 16, 13-19.

Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
(REPOSIÇÃO)

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