terça-feira, 22 de março de 2016

Jesus, o Poeta da Misericórdia – 2

A vida de Jesus é um hino de docilidade para como os excluídos da sociedade, da política, da religião. É um poema de ternura e proximidade para com todos os desprezados deste mundo; os palácios que visita são as aldeias e os campos, dorme onde calha e come do que lhe dão. Faz-Se mendigo da nossa generosidade, enquanto nos fala de um sonho, que já se visualiza no seu proceder para connosco, o sonho de nos ver sentados à mesma mesa, no mesmo reino, sob a mesma filiação, transformados pela misericórdia do Pai.

O Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, tem permitido aclarar a misericórdia como um atributo essencial e primário de Deus. A justiça é o menor dos atributos de Deus. A misericórdia sanciona o perdão e acaricia o homem marcado pelo pecado, pela miséria, renovando-o, envolvendo-o e inserindo-o numa vida nova de graça e de salvação.

A própria palavra misericórdia (miséria + coração) aponta para a absorção da nossa miséria pela compaixão de Deus. "A misericórdia divina vem em socorro da miséria do homem" (Beato Paulo VI, reflexão sobre Santo Agostinho). Jesus, Rosto da Misericórdia, proclama bem alto, nas palavras e sobretudo nos gestos a misericórdia infinita do Pai, que ama e que toma a iniciativa para nos salvar.

Sublinha o Papa Francisco: «A lógica de Deus, com a Sua misericórdia, abraça e acolhe reintegrando e transfigurando o mal em bem, a condenação em salvação e a exclusão em anúncio… o caminho da Igreja é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração».

A convivência de Jesus com pecadores, publicanos, prostitutas, leprosos, coxos, surdos, mudos, mulheres, crianças, estrangeiros visualiza o Reino de Deus aberto a todos. Jesus come com as pessoas que não contam para os reinos deste mundo, mostrando-lhes que no banquete de Deus há lugar para todos, mas os primeiros a sentar-se à mesa do Reino são os mais desvalidos, o que nos obriga a olhar para eles com um cuidado redobrado, pois tudo o que fizermos aos mais pequeninos dos irmãos é a Cristo que o fazemos (cf. Mt 25, 31-45). Se acolhemos o peregrino recebemos Cristo; se vestimos o nu agasalhamos Jesus; se alimentamos o pedinte fazemos com que Jesus seja nosso alimento e sacie a nossa fome e a nossa sede; se usarmos de misericórdia para com o nosso semelhante seremos alcançados pela misericórdia de Deus, que primeiro nos foi favorável.

publicado na Voz de Lamego, n.º 4353, de 8 de março de 2016

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