sábado, 14 de novembro de 2015

XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano B - 15.11.2015

       1 – Olhamos a vida, habitualmente, em função do hoje e do amanhã. O passado pode bloquear-nos, retirando-nos a confiança ou permitindo enfrentar o futuro com esperança. O convite da palavra de Deus é para acolher a vida como dom a viver todos os dias e com o olhar fito no nosso encontro definitivo com Deus.
       As contas fazem-nos no fim, mas podemos ir organizando a contabilidade para que no final batam certo, sem precisarmos de medidas extraordinárias. Se vivermos despreocupadamente, sem ligarmos, poderemos aperceber-nos tardiamente que não vivemos com aquela qualidade de vida que nos colocaria em sintonia com a eternidade de Deus e com aqueles que Deus nos deu para cuidar. Viver cada dia (carpe diem) com as suas preocupações e com a confiança em Deus, não nos dispensa do empenho na transformação do mundo, pelo contrário, quanto mais perto de Deus e mais certos do Seu amor por nós mais implicados uns com os outros. Somos filhos de Deus e, tendo Deus por Pai, somos irmãos.
       Quem vai para o mar prepara-se em terra. Quando sabemos ao que vamos torna-se mais fácil lidar com os imprevistos.
       «Depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu». Apesar de todas as contrariedades e contradições que tenhamos de enfrentar, a certeza da salvação.
       Jesus previne os seus discípulos para que sejam ousados e criativos, para que não fiquem pasmados à espera que o Céu lhes caia em cima, mas operem com as qualidades que possuem, com a força do Espírito, pondo os dons a render. «Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».
       Cabe-nos trabalhar para que os tempos se tornem favoráveis a todos.
       2 – Prosseguindo, Jesus utiliza uma imagem da natureza: «Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão».
       Em alguns momentos da história, grupos de pessoas, que aumentaram nos finais de século e milénio, viveram atormentados por estas mensagens apocalípticas (revelações). O que desperta e prende mais a nossa atenção são as más notícias ou revelações catastróficas. Certamente nos lembramos das ocasiões em que Jesus anuncia a sua morte e logo anuncia também a sua ressurreição! Os discípulos fixam-se no anúncio da morte, e daí a tristeza que sentem e as negociatas de lugares que encetam para o tempo após e sem Jesus. Ora também nessas ocasiões, Jesus os prepara, e a nós também, para um tempo novo, assegurando que nunca lhes faltará, mesmo que em alguns momentos pareça que tudo está perdido.
       Hão de ver o Filho do Homem, com grande poder e glória, com os Seus Anjos, a recolherá os eleitos, da extremidade da terra à extremidade do céus, dos quatro pontos cardeais. Eleitos pelo batismo, precisamos de permanecer eleitos, deixando que a Misericórdia de Deus nos molde e nos implique na caridade com todos.
       3 – A primeira leitura apresenta a mesma linguagem apocalíptica. Entenda-se REVELAÇÃO: Deus vem salvar-nos. Não será uma salvação a prazo ou às prestações, mas integral, extensível a todos, vivos e defuntos.
«Surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos, que protege os filhos do teu povo. Será um tempo de angústia, como não terá havido... Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo, para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus. Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno. Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade».
       O texto de Daniel faz emergir, tal como vimos no Evangelho, a mesma dicotomia: por um lado, tempos conturbados, limitados no tempo, e, por outro lado, a salvação de Deus, definitiva. A angústia do tempo presente em nada é comparável com a alegria e a glória de Deus. Poderíamos de novo usar a imagem da mulher que está para ser mãe: as dores do parto darão lugar à alegria e satisfação pelo nascimento do filho. A toma de medicamentos é mais fácil quando há a certeza que vamos melhorar.
       São palavras de conforto e de esperança, para não nos perdermos nas dificuldades, para não cairmos no desencanto e no vazio, para não nos deixarmos abater, por maiores que sejam os tormentos que tenhamos que enfrentar.
       4 – A salvação chega até nós, em plenitude, com Jesus Cristo, Deus que Se assume como Um de nós, em carne e osso, Deus feito homem. Criou-nos por amor e por amor nos salva. Deus envolve-nos com sinais e com bênçãos, com mensageiros e com o próprio Filho.
        Jesus caminha entre nós, em tudo igual a nós, exceto no pecado. Faz-Se "pecado", descendo até às profundezas dos abismos, para nos elevar, redimindo-nos, e nos colocar à direita do Pai.
       A Epístola aos Hebreus acentua a mediação sacerdotal de Jesus. Ele não oferece sacrifícios pelos nossos pecados, como fazem os sacerdotes do Templo, muitas e repetidas vezes. Ele oferece-Se a Si mesmo, de uma vez para sempre e a todos redime do pecado e da morte, torna-nos filhos libertos para caminharmos à clara LUZ de um novo dia, de um novo tempo de graça e de salvação.
«Todo o sacerdote da antiga aliança se apresenta cada dia para exercer o seu ministério e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca poderão perdoar os pecados. Cristo, ao contrário, tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício, sentou-Se para sempre à direita de Deus... com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica. Onde há remissão dos pecados, já não há necessidade de oblação pelo pecado».
       Estamos salvos porque Ele nos salvou. O que nos pesava foi aniquilado pela morte e ressurreição de Jesus. Agora é tempo de viver em santidade, procurando transparecer o que somos pelo batismo, filhos amados de Deus, que no Filho Jesus Cristo se identificam como irmãos, procurando viver do mesmo jeito.

       5 – Entreguemos (confiando) a nossa vida a Deus, em cada dia, em todas as situações. Ele far-Se-á presente também nas tempestades e angústias que nos afligem. Deus é Pai e Mãe e como tal não nos substitui na nossa vida mas também não cessa de velar por nós e nos querer bem, aqui na terra, cuja temporalidade e humanidade nos sujeita às limitações e contrariedades, e no Céu de onde nos atrai e onde já se encontra, em Cristo, a nossa natureza humana.
       "Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, está nas vossas mãos o meu destino. O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida, alegria plena em vossa presença, delícias eternas à vossa direita" (Salmo).
       A oração reforça a nossa confiança em Deus, a descoberta do Seu amor infinito, e compromete-nos com a história presente. Peçamos-Lhe: "Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de encontrar sempre a alegria no vosso serviço, porque é uma felicidade duradoira e profunda ser fiel ao autor de todos os bens" (Oração de Coleta).
       Ainda que nos falhem as forças, Deus dar-nos-á o alento para prosseguir...

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Dan 12, 1-3; Sl 15 (16); Hebr 10, 11-14. 18; Mc 13, 24-32.

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