domingo, 22 de novembro de 2015

JOSÉ FRAZÃO CORREIA - A FÉ VIVE DE AFETO

JOSÉ FRAZÃO CORREIA (2013). A Fé vive de afeto. Variações sobre um tema vital. Prior Velho: Paulinas Editora. 127 páginas.
       No passado dia 14 de novembro de 2015, o Pe. José Frazão Correia, SJ (sacerdote jesuíta) foi o conferencista escolhido para orientar a reflexão/formação na Assembleia do Clero da Diocese de Lamego, que se realizou no Seminário Maior de Lamego. A apresentação do conferencista ficou a cargo de D. António Couto, Bispo de Lamego, sublinhando que o Pe. José era um teólogo promissor, com um cuidado e uma atenção muito poética dos textos publicados.
       O Pe. José Frazão é o atual Provincial dos Jesuítas. Natural de Leiria, de Alqueitão da Serra. Nasceu em 1970. Entrou para a Companhia de Jesus em 1995 e foi ordenado sacerdote em 2004.
O livro que agora sugerimos veio parar-nos às mãos, uns dias antes, disponível na Gráfica de Lamego (livraria religiosa da Diocese). Como seria o conferencista, valeria a pena ler alguma coisa por ele escrita, ou pelo menos esta era uma curiosidade acrescida.
       Depois da conferência na Assembleia do Clero,  “O Padre e o entusiasmo na evangelização”, cresceu o interesse em ler esta obra poética-teológica.
(Pe. José Frazão Correia no Seminário Maior de Lamego - Assembleia do Clero da Diocese de Lamego)

       O mundo em que vivemos relativizou a fé ou pelo menos o cristianismo. A Igreja não ocupa todo o espaço do mundo. E ainda bem. Pois Jesus Cristo também não ocupa todo o espaço. Jesus possibilita que o espaço e o tempo seja ocupado por outros, doentes, pecadores, estrangeiros. A Igreja não precisa de se impor, pela assunção de tradições e regalias, mas deve ser ponte para acolher a Palavra de Deus, para que as pessoas possam encontrar em Jesus Cristo a presença amorosa de Deus.
        A história de vida de Jesus, a Sua existência corpórea, encarnada, no tempo e no espaço, permite encontrar Deus. Na palavra proferida, nos gestos assumidos, na delicadeza, no trato com pessoas concretas, Jesus potencia o que há de melhor na humanidade, abre para a confiança. O cristianismo não é fácil nem resolve de uma assentada os problemas todos, é bênção e oportunidade de dar sentido a todas as situações da vida, seja benéficas ou diabólicas.
       Vale a pena ler algumas expressões que surgem ao longo do livro, para melhor perceber o texto e o contexto, e a prosa que se transforma em poema:
"Cada homem e cada mulher são oferecidos e impostos à existência. Hoje, talvez mais do que nunca, tornamo-nos responsáveis pelo nosso próprio património e destino, pelos nossos desejos, interrogações e passos... e a felicidade parece desenhar-se mais como cidade a sonhar e a construir do que paraíso perdido a lamentar... Não está tudo dado à partida, porque a partida é a possibilidade promissora de um caminho a fazer, de um sentido a fazer sensato".
"Graça e custo, honra e ónus são aa existência e a liberdade, desde o nascimento, lugar onde o essencial se prefigura e quase tudo está, ainda, por configurar. Todos começamos aqui. Todos nos iniciamos assim., pela bênção dos inícios. Admiravelmente, os dias da nossa vida começam tão promissores. E tão frágeis. Cada bebé que venha a este mundo é apresentado à luz como dádiva - é dado à luz. Por isso, poderá viver de gratidão, honrando para sempre a sua origem e o seu património".
"Com a graça, vem o custo. O que fora recebido, afinal, tem de ser conquistado, num espaço vital que se desenha entre a gratuidade e o custo, herança e invenção, chamamento e resposta..."
"Para nos implicar, Deus não afeta menos do que a totalidade do que somos - corpo, afetos, desejos, inteligência, liberdade, imaginação, vontade - e não nos pediria menos do que começarmos por ser totalmente humanos! 
"Deus fez-se homem, assumiu a carne humana ou, dito de outra forma, a história efetiva daquele homem de Nazaré foi reconhecida como pertença real do Filho de Deus entre nós, para nosso bem".
"Gera-se a fé em Jesus de Nazaré como se gera a vida de cada ser humano: antes de mais, na confiança reconhecida, acolhida e correspondida... A nossa humanidade vem à luz e estrutura-se saudavelmente em encontros (o primeiro, do bebé com a mãe e o pai) e por meio de encontros que têm a confiança como marca elementar". 
"A fé dá-se no terreno existencial do mundo quotidiano, corpóreo e sensível, ferial e transitório, complexo e fragmentário, contingente e ambíguo. Não pode, por isso, abstrair-se da realidade concreta daqueles que creem, com as suas histórias e os seus desejos, as suas fragilidades e paixões, a sua graciosidade e as suas desgraças, as suas feridas e sonhos".
"A abundância da graça divina, exposta no corpo do Filho, tem a força de atravessar todos os lugares demasiado apertados e perigosos da existência, reconciliando, salvaguardando e incrementando todas as possibilidades do humano". 
"Deu perdeu o lugar nos lugares do nosso quotidiano... A sua passagem não invade o nosso espaço, mas cede-nos o lugar. A sua voz não abafa as palavras: dá-nos a palavra e a arte de dizer. A sua promessa não nos cancela o presente, porque é no presente que nos cura a imaginação e nos alarga o horizonte. A sua presença, como de quem passa, diz-nos A-Deus".
"O Santo não desdenha sentar-se à mesa de pecadores e mulheres de má vida. O Verbo cala-se na boca de uma criança que ainda tem de aprender a falar e na mudez de um condenado que já não tem direito à palavra... A vida passa pela dura prova da morte. Atravessa, por isso, com pés de barro, os altos e os baixos da condição humana, a sua graciosidade e as suas desgraças, as suas linguagens e a sua mudez, a sua fecundidade e a sua esterilidade, a sua justiça e a sua impiedade, a sua fé e a sua desconfiança. Memória e promessa, graça e esforço, silêncio e palavra, confiança e reconhecimento do dom da existência reencontram-se na história do filho de Deus entre nós. Não esqueçamos: é na carne e no sangue da nossa humanidade que o encontro entre Deus e cada homem e cada mulher se dá". 
"Só Deus pode ser amado com todo o coração, porque só Ele pode garantir-nos a vida e reconhecer-nos plenamente no mistério que somos. Porque Ele é a origem desse som que não podemos dar-nos a nós mesmos. E, porque é Ele a plenitude e o reconhecimento do que, com esse dom, pudermos e soubermos dizer"

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