sábado, 25 de julho de 2015

XVII Domingo do Tempo Comum - ano B - 26 de julho

       1 – O alimento e a pobreza são realidades de todas as épocas. Pobres sempre os tereis. Garantia de Jesus quando os discípulos contestam a generosidade e a devoção de uma mulher que d’Ele se aproxima e sobre Ele derrama um frasco de perfume de alto preço (cf. Mt 26, 6-12; Jo 12, 1-8). Faz-nos lembrar aquelas pessoas que desafiam a Igreja a vender tudo o que tem para acudir aos pobres mas não mexem uma palha para fazer alguma coisa, sabendo-se que muitos crentes dão o melhor que têm, por vezes com muito sacrifício, para terem uma Igreja bem adornada, com tudo o que há de melhor, procurando que a casa que é de todos seja a mais cuidada, e se é para receber o convidado mais importante, Jesus Cristo, não se poupam a esforços. E não tem a ver com quantidades, mas com o coração e com a vida, como exemplifica Jesus apresentando uma viúva pobre que deitou duas pequenas moedas no cofre do templo, mais do que todos os outros, pois estes deitaram do que lhes sobejava e aquela mulher deitou tudo quanto tinha para sobreviver (cf. Lc 21, 1-4), confiando-se totalmente a Deus.
       Porém, o cuidado com as coisas de Deus há de sensibilizar-nos a cuidar bem dos preferidos de Deus, os pobres, os pequeninos, os humildes e mansos de coração, os que têm pouco e vivem na míngua. O Juízo Final sintetiza a mensagem de Jesus: "Sempre que fizeste isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizeste... Sempre que deixaste de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixaste de fazer" (Mt 25, 31-46). Também aqui não se pode simplesmente espiritualizar o amor ao próximo, há que o materializar: tive fome e deste de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e me recolheste, estava nu e me vestiste, adoeci e visitaste- me, estava preso e foste ver-me. E veja-se como passados alguns séculos, ainda que com muitos pecados, muitos atrasos e lentidões, muitos distanciamentos, a Igreja tem um compromisso social incomparável. A Igreja, com todos os seus membros, poderá sempre fazer melhor, até esgotar todas as possibilidades! O mandato de Cristo é o ponto de partida e o fundamento, que conta connosco e com os meios que estão ao nosso alcance para fazer a vida acontecer.
       Adentremo-nos no Evangelho da multiplicação e da partilha solidária.
       2 – Como víamos no domingo passado, ainda que com outro evangelista, há uma numerosa multidão que segue Jesus. São João refere que isso se deve aos milagres que Ele fazia com os doentes. Também aqui se vê que Jesus vai para o outro lado do mar da Galileia. Não fica deste lado, do seu lado, no seu canto, mas leva-nos com Ele para outras paragens. Sobe ao monte, vista privilegiada para ver a multidão que O segue, e diz a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?»
       Diante do número crescente de pobres, de famílias com dificuldades, empresas a fechar, incumprimento nos pagamentos, também podemos cair em desânimo, concluindo que os problemas são maiores do que as nossas possibilidades: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». É uma pergunta legítima. E se nos pomos a pensar que alguns se puseram a jeito?! Por vezes é necessário acudir às necessidades imediatas, mas a preocupação é revolver as situações a longo prazo, envolvendo aqueles que estão necessitados. É também uma questão de dignidade.
       Fixemo-nos em Jesus. Não faz nenhum reparo em relação à multidão. Não Se interroga pelo facto de alguns estarem desprevenidos. O comentário partilhado com Filipe, e com os outros discípulos, e connosco, é sobre o que cada um nós pode fazer para resolver o problema que temos pela frente e saciar aquela multidão.
       André, irmão de Simão Pedro, denota a insuficiência dos meios: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?».
       Para nós é muito pouco, mas faz toda a diferença. «Mandai-os sentar». 5 mil homens. Jesus toma os pães e os peixes, dá graças e distribuiu-os. Todos comem o que querem. Até ficarem saciados. Nova ordem de Jesus que conta connosco: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». 12 cestos. De 5 pães e dois peixes, depois da refeição para 5 mil homens, sobram 12 cestos! Abundância que vem de Deus. Abundância que vem da partilha.
       3 – A primeira leitura, que novamente nos traz um profeta, prepara-nos para ler o Evangelho. Um homem leva a Eliseu pão feito com os primeiros frutos da colheita. 20 pães de cevada, e algum trigo no saco. Eliseu ordena-lhe: «Dá-os a comer a essa gente». Mas como poderia ele pensar em distribuir 20 pães por cem pessoas? Eliseu insiste: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há de sobrar’». Mais vale quem Deus ajuda do que quem muito madruga!
       O verdadeiro milagre é a confiança em Deus e na Sua Palavra. Deus conta connosco. Cabe-nos parte importante na resolução dos problemas que afligem o nosso tempo. Deus age através de nós, dos nossos dons e dos nossos bens. O que fazemos pode não passar de uma gota de orvalho no oceano, mas este só estará completo com a nossa gota de orvalho, como nos lembra a Beata Madre Teresa de Calcutá.
       O milagre da multiplicação que Eliseu obtém de Deus, e o milagre da abundância operado por Jesus, podemos vivê-los através da partilha. "A terra está dotada dos recursos necessários para saciar a humanidade inteira. É preciso saber usá-los com inteligência, respeitando o ambiente e os ritmos da natureza, garantindo a equidade e a justiça nas trocas comerciais, e uma distribuição das riquezas que tenha em conta o dever da solidariedade" (São João Paulo II, Mensagem para a Quaresma, 1996). 
       O milagre só Deus o pode realizar, ainda que através de nós. A partilha faz-nos multiplicar por muitos o pouco que cada um possa ter. Sejam cinco pães e dois peixes! Deus acrescenta-nos no que fica o que damos aos outros. Na partilha as contas são de multiplicar. “A felicidade está mais no dar do que no receber” (Atos 20, 35).
       A oração de coleta ajuda-nos a consciencializar a iniciativa e omnipotência de Deus, envolvendo-nos na transformação do mundo presente com o olhar colocado na eternidade: "Deus, protetor dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens eternos". 

       4 – A Carta aos Efésios, por sua vez, continua a impelir-nos para os outros, fundamentando a nossa vida e as nossas escolhas em Deus, que é "Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se encontra". Se professamos a mesma fé, há que agir para nos vincularmos no mesmo batismo: "Procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo".
       A missão de Paulo é levar o Evangelho a toda a parte. Porém, não esquece de verificar o Evangelho e os seus frutos nas comunidades por Ele fundadas, incentivando os cristãos a tornarem-se verdadeiros irmãos em Cristo Jesus.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): 2 Reis 4, 42-44; Sl 144 (145); Ef 4, 1-6; Jo 6, 1-15.

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