sábado, 26 de abril de 2014

Domingo II de Páscoa - ano A - 27 de abril de 2014

       1 – Cristo ressuscitou, como disse, Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos de alegria. Aleluia, aleluia. Grande alegria, a maior que o mundo tem, boa notícia da salvação, Jesus, crucificado, morto, sepultado, está vivo, está no meio de nós. Corações ao alto. O nosso coração está em Deus. É a nossa luz e a nossa salvação. O anúncio da Páscoa, que chegou a nossas casas, que levamos aos vizinhos, aos amigos, à família, chegou, naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro da nova criação, chegou e ressoou nos ouvidos dos apóstolos.
       As mulheres, manhã cedo, ainda escuro, nas primeiras horas do dia, mal se vislumbrava o caminho, foram ao sepulcro. E que viram elas? O sepulcro vazio? Diz-nos o nosso Bispo, D. António Couto, as mulheres, como os discípulos, encontram o sepulcro aberto, mas não vazio, "está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4), dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4), as faixas de linho no chão e o sudário enrolado noutro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens!"
       O Corpo, oferecido em Quinta-feira Santa, não foi roubado. Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos, para n'Ele nos inserir num tempo novo, recriado pela Sua graça e misericórdia. E os sinais tendem a multiplicar-se e a transformar aqueles que permitem que Deus se lhes revele. O túmulo abriu-se à luz, à esperança. É urgente que o nosso coração se abra também a esta luz.
       2 – Os sinais visíveis no túmulo aberto levam-nos para outro lugar. Finda a noite, é DIA, tempo de procurar Jesus. Melhor, é altura de deixar que Jesus nos encontre: em casa, no campo, a caminhar, no trabalho, na hora de refeição.
"Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
       O segundo Domingo de Páscoa, o Domingo da Misericórdia, traz-nos a dúvida e o medo de Tomé, bem visível nos demais discípulos, com dificuldade em encarar a claridade imensa da Luz do Ressuscitado. Pouco a pouco se abrem os nossos olhos e os nossos ouvidos. Deus não força. Deus não impõe nem Se impõe. Oferece-se como DOM de vida nova. Mas cabe-nos descobri-l'O, reconhecê-l'O, acolhê-l'O, e anunciá-l'O.
       A vida dos apóstolos, e dos discípulos, altera-se para sempre, em 180 graus. Viram e acreditaram. A mensagem liga Jesus ao tempo e à história. O Ressuscitado é o mesmo que o Crucificado. Também a Mensagem é a mesma: A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo. Eu vos envio a vós, para que vades e deis fruto em abundância.
       3 – A morte de Jesus provoca uma razia/crise entre os apóstolos. Judas que traiu. Pedro que negou. Discípulos que fugiram. Portas e janelas fechadas. Discípulos que regressam a suas casas e não à casa comum, onde se deveriam animar uns aos outros. Será necessário que se encontrem outra vez, todos, com/em Cristo Jesus.
       Tomé, na tarde daquele primeiro dia da nova criação, não estava. Os outros discípulos testemunham o que viram e ouviram. Tomé precisa de ver, precisa de encontrar-se com Jesus. O testemunho dos colegas é importante, despertando, pondo-o de sobreaviso, lançando incertezas às certezas (frustradas) de Tomé, convocando-o para voltar a casa, regressando à comunidade discipular.
       Oito dias depois, Jesus novamente no meio dos apóstolos. Também lá está Tomé. Estão juntos, em casa. As portas continuam fechadas. O medo permanece por algum tempo. Jesus coloca-se no meio. Jesus deve estar sempre no meio, da casa, da comunidade, ocupando o nosso coração e o nosso olhar, a nossa vida por inteiro. É Ele que verdadeiramente nos reúne, nos congrega, nos aproxima. Quanto mais perto estivermos d’Ele tanto mais perto estaremos uns dos outros, e quanto mais nos aproximarmos uns dos outros, mais visível se torna a Sua presença no meio de nós. Jesus traz a paz. Anunciada ao longo da Sua vida pública, é dada de novo na ressurreição.
       Diz Jesus a Tomé, e também a nós: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Perante Jesus Ressuscitado não há palavras que possam mostrar o desassombro. A profissão de fé de Tomé, breve, traz o coração às palavras: «Meu Senhor e meu Deus!». Ainda hoje é esta a oração e a profissão de fé que muitos católicos rezam diante do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o milagre maior da nossa fé. Jesus está vivo, entre nós, especialmente no Sacramento da Eucaristia, nas espécies do pão e do vinho.
       Jesus deixa-nos uma interpelação: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Há momentos na vida em que o essencial só é visível ao coração. A presença de Jesus, na maioria das vezes, só é palpável na simplicidade, um gesto de perdão, uma mão que se estende para outra mão segurar, uma carícia que salva, uma ferida limpa com amor, uma lágrima que se enxuga com carinho e atenção.

       4 – O CORPO de CRISTO, a Igreja, forma-se a partir da Sua Ressurreição. Ele está no meio, é o Guia, o Bom Pastor, a pedra rejeitada que Se tornou pedra angular (Salmo). Somos pedras vivas que se cimentam em Jesus, pelo Espírito Santo.
       Para que o corpo permaneça saudável precisa de cuidados, e de alimento, e de vigilância. Para que a Igreja, Corpo de Cristo, se conserve sã, precisa, antes de mais, de Se alicerçar em Cristo, amparando-se em outros pilares importantes.
       A comunidade de Jerusalém mostra-nos como ser Igreja. "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações... Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus…"
       Oração, escuta da Palavra de Deus, meditação, ensino dos Apóstolos, comunhão fraterna, fração do pão. Presença nos locais de culto. Comunidade que se ramifica na casa dos crentes, que exige a celebração e a partilha. A comunhão em Cristo pressupõe a comunhão com os irmãos. A comunhão com os irmãos pressupõe que também nos bens materiais existe entreajuda, conforme as necessidades.

       5 – Um dos alimentos para o Corpo Cristo é a escuta da Palavra de Deus, procurando que HOJE ela toque a nossa vida. Pedro, depois do encontro com Jesus Ressuscitado, toma a dianteira na pregação, no anúncio do Evangelho e das maravilhas que Deus operou, por Jesus Cristo, a favor de todo o povo, convocando-nos a viver em lógica de esperança, empenhando-nos na transformação do mundo.
       Aí está mais uma belíssima página da primeira Carta de São Pedro:
"Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece… Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas".
       Ressuscitámos com Jesus Cristo, e a nossa fé liga-nos para sempre à eternidade de Deus, mas porquanto é-nos dado viver no meio de provações. A luz que vem de Cristo há de atrair-nos também nos momentos de dor e de treva, até à alegria eterna, procurando antecipá-la e saboreá-la HOJE com as pessoas que Deus nos dá para cuidarmos e para cuidarem de nós.

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (A): Atos 2, 42-47; Sl 117 (118); 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31

Sem comentários:

Enviar um comentário