sábado, 1 de fevereiro de 2014

Festa da APRESENTAÇÃO DO SENHOR - 2 de fevereiro

       1 – Passaram 40 dias do Natal, celebração do nascimento de Jesus. Conforme a tradição religiosa dos judeus, o Menino é levado ao Templo para em Seu nome ser oferecido, mediante as possibilidades da família, um par de rolas ou duas pombinhas. O acontecimento sublinha a fé dos pais e a pertença ao Povo da Aliança. A criança é apresentada no Templo, é confiada a Deus. Deus é chamado a proteger a criança como protege todo o povo e todos aqueles que na docilidade do coração acolhem a Sua vontade.
       Maria e José cumprem. Não estão à parte, ou acima da Lei ou das tradições judaicas. De José se diz que é um homem justo. Ora, a justiça judaica tem a ver, antes de mais, com o cumprimento da Lei de Moisés, com os seus ritos, preceitos e contributos.
       Em pouco tempo, é a segunda vez que Jesus é levado ao Templo. Oito dias depois do nascimento para ser circuncidado e lhe porem o nome; 40 dias depois, apresentação, sacrifício e louvor, bênção e proteção de Deus. Passado este tempo, a Mãe da criança, no caso presente Maria, poderá de novo participar na vida do povo, social e religiosamente. Depois do parto ficou “impura” para participar em qualquer ato de culto (a pureza ritual não é sinónima da pureza moral).
       Alguns anos depois veremos de novo Maria, José e Jesus no Templo de Jerusalém, a cidade santa, por ocasião do rito de passagem da adolescência para a idade adulto, por volta dos 12 anos de idade. Nessa ocasião Jesus mostrará que já tem vontade própria e que a Sua vontade se conformará com a de Deus Pai.
       2 – Porquanto, passaram 40 dias. Vejamos Maria e José. Estão radiantes. Deus foi generoso com eles. José, o homem dos sonhos novos (relembramos José, filho de Jacob, que também é forçado a ir para o Egipto, de onde salvará o seu povo) acolheu o mistério que lhe foi revelado pelo Anjo. Está felicíssimo e com Maria apresenta o REBENTO. Cada criança deveria ser luz e salvação para a família. Também Aquele Menino é uma bênção do tamanho do mundo.
       José vestiu a melhor roupa que tinha. Maria arranjou-se o melhor que pôde. É um dia de festa. Quem vai ao Templo (como à Igreja) não vai de qualquer maneira, ainda que nenhuma razão, mesmo da roupa, devam afastar do Templo (e da Igreja) quem quer que seja.
       Introduzimos aqui um parêntesis e voltamos à história do Santo Cura d'Ars e daquele agricultor que todos os dias parava na Igreja para rezar. Sacudia os pés e a roupa, encostava a enxada à entrada, no exterior, e dirigia-se até junto do altar, sem dizer palavra. Um dia o Santo perguntou-lhe o que dia na sua oração. Resposta: «Não digo nada. Eu olho para Jesus e Ele olha para mim». A melhor roupa é sempre o coração disponível para amar e para se deixar transformar por Deus.
       Este é outro vestuário que Maria e José vestem. O coração vai em festa. Não cabem dentro de si. Dançam interiormente. Há muita vida pela frente. Confiança quanto baste. Aquele Menino vem de Deus e agora vai-Lhe ser confiado. Não há palavras. Não sabem com exatidão o que poderá reservar o futuro para o Seu Menino, mas se O souberem com Deus isso basta para enfrentar todo o perigo, toda a treva. Um dia será o próprio Jesus a confiar-Se a Deus: «Pai nas Tuas mãos entrego o Meu espírito» (Lc 23, 46). Maria estará por perto, recordando-se (talvez) das palavras de Simeão.
        3 – Há por ali alguma agitação. Grupos que conversam. Pessoas que põem as contas em dia. Uns desabafam, outros negoceiam, outros escutam serenamente. Mas fixemos o nosso olhar e o nosso coração e a nossa vida em Jesus. Maria e José aproximam-se do Velho Simeão, homem justo e piedoso, e colocam-lhe Jesus nos braços.
       Diz-nos o Evangelho que Simeão foi ao Templo movido pelo Espírito Santo, que lhe revelara que não morreria sem ver o Messias. Mais uma luz: deixarmo-nos guiar pelo Espírito Santo, o que nos permitirá reconhecer Jesus nos outros.
       Simeão sentiu algo diferente, soube de imediato, como Isabel quando ouviu a saudação de Maria e o Menino exultou de alegria no seu ventre. Simeão deixa que as palavras fluam:
«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».
       Está tudo a correr bem. Como esperado. Pessoas de oração, Maria e José querem ser instrumentos de Deus e n'Ele colocam a vida do Menino. Que mal poderá advir? Ficam admirados com o que d'Ele diz Simeão. E o velho, santo e sábio, diz a Maria: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
       Tal como o parto, também a salvação virá com dor e sofrimento e esforço e com muito amor. Só este, com efeito, possibilitará que as horas mais amargas se convertam em esperança e sejam enfrentadas as dificuldades. O Menino será a Luz das Nações. Será um SINAL de contradição. A luz não condena, mas põe a descoberto as "imperfeições" ou as manchas da parede, ou os restos de pó deixado a um canto. Vem salvar, mas Ele próprio terá que enfrentar as passas do Algarve.
       4 – No Templo estão pessoas de várias classes sociais. Abramos os ouvidos. Eis que fala uma mulher, de idade avançada, 84 anos, viúva, de seu nome Ana, filha de Fanuel, reconhecida como profetisa. Viveu casada durante um curto espaço de tempo, 7 anos. Com a viuvez chegaram as dificuldades. As viúvas e os órfãos engrossavam o número dos pobres e marginalizados, dependentes da benevolência alheia. O Templo é um lugar privilegiado para pedir.
       Anos mais tarde, o elogio de Jesus a uma viúva que, na sua penúria, das esmolas que recebe, partilha com o cofre do templo (cf. Mc 12, 41-44).
       Ana ficou abandonada à sua sorte muito cedo. Não se foi abaixo, dedicou-se às coisas de Deus, pedindo, dando oportunidade para alguns se tornarem generosos, falando das coisas dos homens e das coisas de Deus. Por vezes com um auditório atento, muitas vezes com o escárnio das autoridades. Mas não desiste. Sente-se bem no Templo, lugar de encontro com Deus e com o Seu povo.
       Não pode calar o que lhe vai na alma. Começa “a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Alguns olham de lado. Mais uma louca no espaço do templo! Não importa. Deus conta com os pequeninos, os pobres e os loucos para comunicar a Sua vontade. Podemos fazer de conta, avançar, ir adiante, mas aquela mulher continua a falar, nunca a tínhamos ouvido falar tão alto e de forma tão entusiasta. Quereríamos passar à frente, mas aquela voz ressoa nos nossos ouvidos e no nosso coração. Que é que ela diz? Será que fala para nós? Será que Aquele Menino é alguém importante? Filho de reis? Que poderá Ele trazer de bênção para o povo?
       Paremos um pouco, mastiguemos as suas palavras. São semelhantes às palavras de Simeão. Poderemos dar crédito a uma viúva? Mas ela não conta para as estatísticas! Não será tempo de darmos mais atenção às pessoas ao invés de só ligarmos aos números e às percentagens?
       5 – Simeão e Ana representam os sábios, os justos de Deus, os pobres, os puros de coração, os profetas. Confirmam o que se esperava para o Messias, o Enviado de Deus.
       Diz o Senhor, pelos Seus mensageiros: «Vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí vem... Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata..."
       Com efeito, Jesus, Aquele Menino que está na manjedoura e que agora é apresentado no Templo, é em tudo igual a nós, da mesma carne e do mesmo sangue. Vem para nos guiar aos braços de Deus, Seu e nosso Pai, assumindo-nos como irmãos. "De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação".
       Porquanto, regressa a casa, na cidade de Nazaré. "O Menino crescia e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele". Cumpramos com as prescrições da nossa fé, amando a Deus e aos irmãos, regressemos a nossas casas e cresçamos em sabedoria e em graça diante de Deus, para depois espalharmos a bênção em outras casas e outras praças.


Textos para a Eucaristia: Mal 3, 1-4 ; Sl 23 (24) Hebr 2, 14-18; Lc 2, 22-40.

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