sábado, 19 de outubro de 2013

XXIX Domingo do Tempo Comum - ano C - 20 de outubro

       1 – Deus não dorme. Se assim fora, na natural rotação da terra, alguém ficaria prejudicado. Por vezes, perante os sofrimentos pessoais e o mal que se espalha como cancro em algumas partes do mundo, poderemos interrogar-nos como o salmista: “Levanto os olhos para os montes: de onde me virá o auxílio?” Quantas situações da vida em que nos sentimos perdidos, a naufragar! É nessas horas que a esperança em Deus se torna mais necessária.
       Rezava Santa Teresa de Jesus, que celebrámos no dia 15 de outubro, com humildade e confiança: “Nada te turbe, nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta”.
       Quando tudo se volatiza em águas revoltas, Deus permanece fiel. “O meu auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra. Ele não deixará que vacilem os teus pés; aquele que te guarda, não dormirá. Pois não há de dormir nem dormitar, aquele que guarda Israel. O Senhor é quem te guarda e está a teu lado. O Senhor protege-te nas tuas idas e vindas, agora e para sempre”.
       A fé em Deus, que é Pai, há de ser a música de fundo que orienta, envolve e sustenta, a minha, a tua, a nossa vida. As grandes inquietações da vida: quem sou? Que ando cá a fazer? Que sentido tem a minha vida? O que há depois da morte? Quem é Deus? Onde está Deus no sofrimento? Se tudo acaba no cemitério, valerá a pena lutar pela justiça, pela verdade, pelo bem?
       Também aqui assenta a nossa fé, garantia de que Deus virá, Deus está, Deus vem ao nosso encontro. Se porventura nos faltar a paciência e o discernimento, ainda assim, Deus não deixará de ouvir o nosso clamor e atender à nossa prece. Com efeito, Jesus Cristo revela-nos, em plenitude, o AMOR de Deus que permanece, agora e eternamente. Ele é o ROSTO e a presença de Deus no meio de nós, pelo Espírito Santo. Encarnou. Viveu como UM de NÓS. Morreu, ressuscitou. Deu-nos o Espírito Santo, que renova a vida da Igreja, nos inspira e torna presente a Sua morte e Ressurreição, assumindo-nos como irmãos.
         2 – A fé é sobretudo LUZ que ilumina o nosso peregrinar. Na sua primeira Encíclica, A Luz da Fé, o Papa Francisco sublinha que “a fé não é luz que dissipa todas as trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho”.
        Ressoam em nós a palavras de Jesus, convidando-nos à oração, sem desistir nunca. Para melhor ilustrar o seu desafio, Jesus conta a parábola de uma viúva que sistematicamente vai à presença do juiz da cidade para que lhe faça justiça. O juiz não a atende por achar justo fazê-lo mas pela insistência e pelo incómodo: «Embora eu não tema a Deus nem respeite os homens, contudo, já que esta viúva me incomoda, vou fazer-lhe justiça, para que me deixe de vez e não volte a importunar-me». 
       No prosseguimento da parábola, Jesus contrapõe: «Reparai no que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há de fazê-los esperar? Eu vos digo que lhes vai fazer justiça prontamente. Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?» 
       Jesus garante a resposta de Deus, mas interroga-se sobre a nossa fidelidade e constância. Saberemos alimentar a esperança em Deus e a certeza que Ele nos ama, mesmo nas dificuldades mais intensas? Manteremos viva a chama da fé?
       3 – A história de Israel, do Povo eleito, revela-nos a presença atuante de Deus, ainda que pelo meio sobrevenham momentos de conflito dentro das famílias, entre tribos e entre povos, infidelidades, privações e provações, tempos de grande adversidade, guerras, carestia. A fé é como o amor, e como os amigos, nos apertos testa-se e, na perseverança, fortalece-se.
       Não faltam ocasiões em que a oração do Povo é mais insistente, e Deus não deixará de responder. É significativo o episódio relatado na primeira leitura. Josué comanda o exército israelita e logo Moisés, o grande líder, lhe garante o apoio pela oração: «Amanhã eu permanecerei firme no cimo da colina e terei a vara de Deus na minha mão».
       Josué confia e parte para a batalha contra Amalec. Refere o texto que “enquanto Moisés tinha as mãos levantadas, era Israel o mais forte; mas quando descansava as mãos, o mais forte era Amalec”. Percebendo que é a oração de Moisés que fortalece os combatentes israelitas, e lhes faz ganhar vantagem, decidem apoiá-lo na oração: “Pegaram então numa pedra e puseram-na debaixo dele, e ele sentou-se sobre ela. Aarão e Hur sustentavam as mãos dele, um de um lado e outro do outro. E assim as mãos dele permaneceram firmes até ao pôr-do-sol”.
       A fé tem uma dimensão pessoal, Deus desafia cada um. Mas amadurece em comunidade, Aliás, é na comunidade que aprendemos a ser irmãos. Vale o mesmo para a oração. Moisés reza a Deus, mas a sua oração, e a sua fé, apoia-se em Aarão e Hur, ou seja, no povo de Deus.
       4 – A oração une-nos à comunidade e reforça os laços fraternos que nos unem, alarga o nosso coração pequeno e limitado, para que possamos amar todo o mundo com o coração de Deus. Assim, citando o Santo Cura d’Ars, o lembrava Bento XVI na convocação do Ano Sacerdotal (2008/2009).
       Dom de Deus, a fé precisa de ser alimentada pela oração, pela escuta e meditação da palavra de Deus, pela participação ativa e alegre nos sacramentos, principalmente na Eucaristia, no qual Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, Se dá e nos dá a Deus Pai, e nos constitui novo Povo de Deus, e nos reenvia à prática do bem e ao testemunho/propagação da Palavra de Deus.
       A alegria da fé contagia-nos e faz-nos testemunhas do amor de Deus. Não basta responder ao amor de Deus com acolhimento e com amor, é preciso comunicá-lo aos sete ventos. Em Dia Mundial das Missões, são bem ilustrativas as palavras de São Paulo a Timóteo e à comunidade crente:
«Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste… Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa… Proclama a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão…»
       Oportuna e inoportunamente, cada cristão – e toda a Igreja – está comprometido com o anúncio da Palavra de Deus, deixando-se evangelizar e evangelizando, convertendo-se e propondo a conversão aos outros. “Ai de mim se não evangelizar?"


Textos para a Eucaristia (ano C): Ex 17, 8-13; Sl 120 (121); 2 Tim 3, 14 – 4, 2; Lc 18, 1-8.

Sem comentários:

Enviar um comentário