sábado, 27 de julho de 2013

XVII Domingo do Tempo Comum - ano C - 28 de julho

       1 – «Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!»
       Persisti na oração, diz-nos Jesus. Como Maria, irmã de Marta, coloquemo-nos aos pés Jesus, escutando a Sua Palavra, predispondo-nos a escutá-l’O e a falar com Ele, tão próximos que falem os corações.
       Um dos discípulos pede a Jesus para que Ele lhes ensine a rezar. E Jesus ensina: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’».
       A oração do Pai-nosso, mostra a clareza da mensagem de Jesus. Não é preciso dizer muitas palavras, é necessário rezar com o coração e com a vida, e que as palavras traduzam a ligação alegre e confiante a Deus, reconhecendo-O como Pai, para nos reconhecermos como irmãos, acolhendo o Reino de Deus em nós para comunicarmos aos outros o evangelho da vida e da caridade.
       2 – Logo Jesus sublinha a necessidade de rezar, de pedir, de insistir com Deus como se insiste com um amigo. Jesus dá o exemplo daquele homem que tendo visitas e, sendo já tarde, vai ter com o seu amigo para lhe solicitar três pães. Insiste uma e outra vez, até incomodar, até ser atendido. Deus não deixará de atender a vossa prece. É Jesus Quem no-lo diz. Rezai assim. Insisti. Batei à porta!
       Na primeira leitura encontramos um belíssimo testemunho desta forma de rezar. Depois da visita de Deus a Abraão, através de três viajantes, que seguiram o seu caminho, Deus permanece e revela-lhe o propósito de destruir a grande cidade de Sodoma e Gomorra, pela maldade das suas gentes. Abraão regateia com o Senhor: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». 
       Abraão transparece valentia na oração, intercedendo pelas pessoas daquela cidade, negociando com Deus até ao limite. Se lá houver 50, 45, 40, 30, 20, 10 justos, pergunta Abraão a Deus, irás destruí-los pelos pecados dos outros? Deus responde: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
       Referindo-se a esta passagem, na Missa matutina, no início do mês, na de Casa de Santa Marta, o Papa Francisco falava da oração corajosa de Abraão, e como este negoceia a salvação da cidade. Vai fazendo com que o preço baixe de 50 para 10. Regateia enquanto é possível. Abraão assume as dores dos outros como suas; defende a cidade como se fizesse parte dela.
       O cristão há de ser corajoso ao rezar ao Senhor. Podem ser poucas palavras, mas confiantes no beneplácito de Deus. E rezando uns pelos outros, a exemplo do nosso Pai na Fé, Abraão.

       3 – Um exemplo muito plástico, muito visual: o COLO da Mãe. É a oração mais sublime. Desde que nasce a criança tem no colo materno o seu refúgio, a sua segurança, que se estende até à idade adulta. Na minha geração e nas anteriores mais ainda, a afetividade entre os filhos e os pais era mais comedida, mais sóbria. O mesmo amor, com menos palavras afetuosas e com menos gestos de carinho.
       Hoje a relação do filho com a mãe (com os pais) é de cumplicidade. O colo da mãe é ocupado muitas vezes por motivos diversos, em diferentes idades, independentemente de quem está à volta. Pensemos, ao jeito do sorridente Papa João Paulo II, que Deus é Pai e Mãe ou como muitas vezes releva da Sagrada Escritura, é Pai que ama como Mãe, a partir das Suas entranhas. É uma ligação umbilical, genética, mas também muito espiritual: a mãe pressente as dores do filho. Assim Deus para connosco.
       Recostamo-nos ao colo da Mãe, ao ventre que nos gerou, ao peito que nos amamentou, ao corpo que nos deu vida, nos dá vida. Aconchegamo-nos, em concha, em posição fetal, como se ainda nos sentíssemos dentro do seu corpo, com a mesma segurança, com a certeza que nada nos pode fazer mal se estamos juntos, colados nela, coração com coração, pele com pele, vida com vida.
       Recostamos a cabeça e o corpo todo, a vida por inteiro, no colo da Mãe, para sentirmos o aroma da sua presença, o seu conforto, a sua voz no nosso coração, o seu olhar na nossa alma, o seu amor na nossa vida. No colo da mãe, para pedir, para chorar, para nos sentirmos especiais, para nos sentirmos filhos. No regaço da mãe para sabermos que o mundo continua ali, e não nos foge por debaixo dos pés, sentindo o seu abraço e os seus beijos demorados, a sua atenção. Somos parte dela, somos a sua vida, preenchemos o seu coração e por isso quando nos afastamos, ou adoecemos, ou nos transviamos, o seu coração fica apertadinho, a quebrar e tudo o mais perde sentido e importância. A mãe esquece o frio e o calor, esquece as suas necessidades, por nós, por cada filho. Assim Deus.
       4 – Escutando o desafio de Jesus, rezemos com coragem e insistência.
       Pensemos em Deus como Mãe.
       Com a nossa mãe, no seu colo reconfortante, pedimos, e choramos, e rimos, sem máscaras, sem pudores. Sabemos que ela nos escuta e perscruta, o seu coração sintoniza o nosso, em alta fidelidade. Quando pode atende-nos, quando não pode compreende-nos, apoia-nos, solidariza-se, chora e ri connosco. Ao seu colo vamos para dizer muitas coisas, para lhe contar a nossa vida, os nossos medos, os nossos desejos, as nossas angústias e preocupações, as nossas alegrias e conquistas. E quando não temos palavras, ficamos em silêncio. Mãe que é mãe não enjeita o seu colo, mesmo magoada, ou cansada, ou desiludida. O seu colo é nosso e para nós.
       Deus de tanto nos amar, descobre o colo de Maria, e nesse colo nos dá Jesus, e mais tarde nos dará Maria por mãe, para que mesmo que nos falte a nossa mãe, nunca nos falte o colo de uma Mãe.
       Se rapidamente vamos ao colo da mãe, rapidamente nos acheguemos ao colo de Deus, pedindo, agradecendo, permanecendo junto d’Ele, deixando que Ele permaneça junto de nós, como permaneceu junto de Abraão, segredando-lhe os nossos medos e anseios, o nosso cansaço e a nossa dor, entreguemos-lhe o nosso coração. Com coragem, confiantes. Por mais persistente que seja o sofrimento, mais intensa seja a nossa oração. Também aí Ele associa a Sua paixão ao nosso desânimo. E se o sofrimento persistir, e não estiver ao alcance a cura, não deixemos de nos colocar ao Seu colo, pedindo força e ânimo para aceitarmos o que não é possível mudar.
       E ainda que queiramos protestar com Ele, façamo-lo sem medo. Ele escuta as nossas queixas. Ele não recua, como não recua o colo da Mãe. Muitas vezes a Mãe sofre o sofrimento do filho. Ela quereria assumir no seu corpo, na sua vida, o sofrimento do filho para que ele não sofresse. Mas não pode. Vale, nessas horas, a companhia, a certeza que nos apoia, que está do nosso lado, que compreende a nossa dor, e nos dá a mão e o regaço, e firma o seu no nosso olhar.

       5 – Ele vem para nascer e viver no meio de nós, caminhar connosco e connosco penetrar no sofrimento e na morte, e como Deus, Jesus nos abre de novo outro colo e outro céu, nos dá a mão e como irmão nos eleva para o coração de Deus. As distâncias encurtam-se. Deus faz-Se homem.
“Sepultados com Cristo no batismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz”.
       O Céu fica mais perto. Com a Ressurreição, Jesus parte, e envia-nos o Espírito Santo. A oração permite-nos acolher o Espírito e a salvação, compreender a nossa fragilidade e a nossa limitação. A oração predispõe-nos para reconhecer os outros como irmãos e para aceitarmos os nossos limites, para perdoarmos os limites dos outros, para transformarmos a fé em vida e em compromisso.


Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18, 20-32; Col 2, 12-14; Lc 11, 1-13.

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