sábado, 22 de junho de 2013

XII Domingo do Tempo Comum - ano C - 23 de junho

       1 – Bem sabemos a diferença entre conhecidos e amigos. Muitos dos amigos que temos são sobretudo conhecidos. Conhecemo-los de vista, através das redes sociais, vivem no mesmo ambiente geográfico, cultural e/ou religioso que nós, cruzamo-nos em algum momento com eles, numa festa, num encontro social, são da nossa terra, vivem na mesma cidade que nós. A respeito de alguns, reduzindo drasticamente o número destes amigos, temos mais informações, sobre a casa em que moram, quem são os pais ou os filhos, a que família pertencem.
       O círculo vai-se fechando. De alguns sabemos a idade, o clube, a escola que frequentam, os cafés onde vão. Alguns encontramo-los nas ruas e nas encruzilhadas da nossa vida. Serão nossos amigos? Sim, em certo sentido, não nos querem mal, também não lhes queremos mal.
       E quais os amigos de quem sabemos o que sentem, o que os faz felizes, o que os magoa ou traz tristes? Conhecemos as suas angústias, os seus sonhos, os seus projetos de vida? Que amigos nos provocam alegria ao encontrar? Que amigos nos deixam preocupados com a sua saúde, ou que nos fazem rir, ou chorar, ou falar descontraidamente, ou com quem queremos estar em festa? Ou que procuramos em momentos de desencanto na nossa vida, ou de desencontro nas suas vidas?
       Reduzimos substancialmente o rol dos nossos amigos. Há amigos e amigos. Há amigos que marcam os nossos dias, o nosso sentir, a forma como pensamos a vida e nos situamos na história. Há amigos que são conhecidos, com os quais nos sentimos bem mas de quem não sentimos a ausência. Jesus diz aos seus discípulos: já não vos chamo servos, mas amigos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, chamo-vos amigos porque vos contei tudo o que ouvi a meu Pai (cf. Jo 15, 14). “Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13).
       O amigo é um tesouro, é um confidente, é uma CASA onde me sinto acolhido, protegido, aconchegado, que não me julga, e sabe que não sou perfeito, é alguém que me respeita e me admira e por quem eu nutro afeição e consideração, estimo como familiar que escolhi.
       2 – No Evangelho, Jesus estabelece com os seus discípulos uma fronteira inclusiva. Dito de outra forma, Jesus pede aos seus discípulos que se entranhem mais na Sua vida, que não se sintam apenas conhecidos ou curiosos, mas sejam verdadeiros amigos, seguidores, que Se alimentem da Sua presença, que procurem entendê-l’O nos dias alegres e felizes mas também nos dias tristes e dolorosos que se aproximam. O amigo verdadeiro não vacila nas adversidades, não volta o olhar, ou esconde o rosto no sofrimento do amigo. Jesus quer solidificar a cumplicidade com os amigos mais próximos, ver até onde eles estão dispostos a ir. Será que estão preparados para as dificuldades? Como será a amizade em contexto de perseguição?
       Há uma altura em que não basta estar lado a lado, é imperioso estar de mãos dadas, de corações entrelaçados, sintonizados com o sentir do outro. Já não é suficiente ter impressões, vagas ideias e sensações, é crucial conhecer o íntimo daquele que queremos como irmão, aceitá-lo nas suas limitações e nas suas inseguranças, confiarmos-lhe a nossa vida e as nossas inquietações. É nos momentos sombrios e de deserto que se veem os verdadeiros amigos.
       Num momento de intimidade com o Pai, em oração, cuja amizade é ontológica, vital, Jesus avaliza as seguranças dos seus discípulos. Primeiro uma pergunta curiosa, em forma de sondagem da opinião pública: o que dizem as pessoas de mim? Certamente que vos chegaram ao ouvido diversas opiniões acerca de Quem Sou e do que que faço. Que se diz por aí?
       As respostas, ainda assim, são bastante favoráveis. Possivelmente levam o filtro da amizade. Dizem que és Elias, João Batista que ressuscitou, um dos antigos profetas. Dizem por aí. São murmúrios que não tocam, não envolvem, não comprometem, denotam uma certa indiferença. Jesus, porém, não se fixa no que se diz, fixa o Seu olhar neles e em nós.
       3 – «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Que importância tenho para ti? Que lugar ocupo no teu coração? Há lugar para Mim na tua vida? Nas vossas escolhas tendes em conta o que Eu Sou para vós? Escutais as minhas palavras? Levais em linha de conta o que vos digo? É diferente a vossa vida por Me conhecerdes? Por me considerardes amigo?
       Até agora vistes uma parte de Mim. Percorremos aldeias e cidades. Fomos quase sempre bem recebidos. Lancei as primeiras sementes. Quis que estivesses a meu lado, vivesses comigo e me acompanhasses, para aprenderdes de Mim a caridade, o perdão, a compaixão. Vêm aí tempos conturbados. Estais dispostos a continuar esta aventura Comigo? Vou morrer, quereis prosseguir o Meu caminho, a Minha missão? Estais dispostos a dar/gastar a vida, a renunciar a Vós mesmos? Por Mim? Pelos outros? «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».
       Se quereis uma vida mais facilitada, um caminho mais suave, se quereis preservar a vossa vida, então podereis seguir noutra direção. Se estais dispostos a ficar Comigo, correis sérios riscos de perder a própria vida. Como vai ser? E vós quem dizeis que Eu sou? Morrereis por Mim, se for necessário? Ireis até ao fim?

       4 – «Tu és o Messias de Deus». A resposta de Pedro, também em nosso nome, enquadra uma primeira profissão de Fé, algo tíbia, mas já é um começo. Na versão de Mateus (16, 13-20), Jesus sublinha a revelação divina que acontece em Pedro: foi Meu Pai quem to revelou.
       Com efeito, a nossa resposta há de tornar-se firme, pela fé, na intimidade com o Pai, na oração, deixando que o Espírito Santo traga Jesus ao nosso coração, e que a Sua Palavra seja espírito e vida, que esteja nos lábios, mas sobretudo no coração, em cada gesto, olhar, compromisso, na família, no trabalho, no tempo de lazer e da festa, haja sol ou chuva!
       Jesus questiona os discípulos depois de um momento de diálogo amoroso com o Pai. Entrevê-se que a relação dos discípulos com Ele terá que se aproximar da Sua relação filial com o Pai. O Seu maior alimento é fazer a vontade do Pai. Se somos verdadeiramente seus amigos, o procedimento terá que ser o mesmo, transparecer em nós a vontade do Pai.
“Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes batizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa”.
       A fé em Cristo Jesus faz de nós irmãos. Estamos enxertados no Seu Corpo. Alimentamo-nos do mesmo Espírito, da mesma Palavra. N'Ele somos TODOS UM. E de novo a amizade se alarga, conhecidos, amigos, inimigos, formamos a mesma família de Jesus, fazendo que Ele seja tudo em todos, pois n'Ele todos nos identificamos como irmãos.

       5 – Esta fraternidade alargada por Jesus Cristo, com o mistério da Sua morte e ressurreição, envolve a humanidade inteira. De uma vez para sempre, e por todos, Ele dá a vida até ao último sopro. O Seu Sangue é derramado e mistura-se com a terra. Pisamos o mesmo chão sagrado, como irmãos, protegidos com a mesma bênção, em céus comuns.
       Somos herdeiros da promessa de Deus. Ele vem para nos inserir na beleza do encontro e da comunhão. É tempo de visualizarmos a promessa do Senhor: «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram… Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».
       É esta a torrente de alegria, de vida nova, de amor, de salvação, que Jesus opera. O profeta anunciava, Jesus cumpre. Cabe-nos, agora, tornar visível a salvação que Cristo realiza em nós, pelo Espírito Santo. Por conseguinte, a urgência de estarmos unidos ao Senhor, como rezamos com o salmista: “Unido a Vós estou, Senhor, a vossa mão me serve de amparo”. Ele é o nosso céu, o nosso abrigo, o refúgio seguro.


Textos para a Eucaristia: Zac 12, 10-11; 13, 1; Sl 62 (63); Gal 3, 26-29; Lc 9, 18-24.

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