quarta-feira, 29 de maio de 2013

Judas, o predileto discípulo de Jesus

       "... nenhuma perturbação provoca em nós tanto impacto, nem golpe nenhum fere como aqueles que nos chegam de um irmão, de um amigo".

       "... só quem nos ama pronuncia corretamente o nosso nome, sabe o seu significado até ao fim, está apto a nomear o nosso mundo na sua complexa e enigmática inteireza. Só quem nos ama é capaz de ver-nos como realmente somos: esta mistura apaixonada e contraditória, esta aventura conseguida e, ainda assim, inacabada, esta pulsão de nervos e de alma, de opacidade e vislumbre. escreveu com razão o poeta: «Quem não me deu Amor, não me deu nada». Só quem nos ama deposita no fundo da terra oscilante do nosso coração uma semente de bondade, um fragmento de amanhã. E, contudo, tal como a noite, a certa hora, espera inevitável pelo dia, ou como tempestade brota, sem sabermos explicar como, do interior da própria bonança, assim é na amizade. Pode existir um momento, uma hora da vida, uma situação em que, com menor ou maior gravidade, sintamos, ao arrepio de tudo, o contacto com um gesto, com uma palavra que a atraiçoa...
       ... A traição estilhaça o nosso quadro interno, precipita-nos na deceção, amarra-nos a um intensa e desconhecida dor...
       ... só quem me ama me pode trair"
        "Em hebraico, Judas significa «o predileto». Tal como Cefas (o nome Pedro) significa «pedra».. Há quem veja aqui traços do humor de Jesus, que chama «pedra» a um seguidor assustado como Pedro e tem como discípulo traidor um de nome «predileto»... Jesus não escolheu Judas por outra razão que não fosse o amor...
       Quando ele se dispôs a seguir Jesus, certamente existia nele idealismo, convicção e verdade... O desejo de verificar com os seus próprios olhos, de se envolver eram genuínos. Depois, foram-se acumulando poeiras, embaraços, esfriamentos, discórdias...

       "Tal como os restantes discípulos, ele estava convencido de que Jesus se dirigia para Jerusalém para instaurar o Reino de Deus e o Verus Israel (verdadeiro Israel), sob a forma de um poder político, a tal ponto que as discussões entre eles era sobre o lugar que caberia a casa um no futuro governo (cf. Lc 9, 46 e Mc  10, 35-40)...

       "Judas, no fundo, traiu porque se sentiu traído. É a traição que determina o seu gesto. Que, da sua parte, tudo fique decidido durante a Última Ceia, evidencia bem a densidade do desfecho: quando, no partir e repartir do pão, Jesus anuncia que aceita viver a morte como dom, Judas considera isso intolerável. Ele não quer um Messias que morre. E abandona a sala..."

in TOLENTINO MENDONÇA. Nenhum Caminho será Longo.

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