sábado, 7 de janeiro de 2012

Solenidade da Epifania do Senhor - 8 de janeiro

       1 – A luz que surge numa gruta, acessível a Nossa Senhora, a São José, e aos pastores, que são avisados pelos anjos, torna-se cada vez mais visível. Tal é a intensidade desta LUZ, que vem do Céu à terra, que não cabe em nenhuma gruta, ilumina todas as grutas, toda a escuridão.
       A luz é visível à distância, ainda que seja necessário os nossos olhos estarem abertos para contemplar a Luz que brilha nas alturas. No Oriente, em toda a parte, os Magos – de todos os tempos, cuja sabedoria os desperta para perscrutarem tudo o que os rodeia, as pessoas, a terra, o céu, os sinais, a presença do Invisível – vigilantes, deparam-se com uma Estrela mais brilhante e deixam-se conduzir por ela.
       O primeiro desafio para hoje é a abertura aos outros, ao mundo circundante. Se estivermos debruçados sobre nós mesmos, nada se passará à nossa volta, nada nos fará mudar do registo melancólico, da pena que acabaremos por sentir e que queremos que os outros sintam por nós. É preciso levantar o olhar para ver mais longe, para ver além, é necessário olhar até às alturas. É o primeiro passo, estar atentos ao mundo, aos outros, a Deus, às oportunidades com que nos deparamos todos os dias, todo o dia.
        2 – "Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora".
       Não basta comprazermo-nos na contemplação do mistério, do que de novo surge ao nosso olhar. É um primeiro passo, mas que desafia a outros. É necessário levantar-nos e pormo-nos a caminho.
       É o convite do profeta Isaías, a todo o povo, e que se cumpre nos Magos (vindos do Oriente, vindos de toda a parte). O caminho faz-se caminhando. Os Magos não se põem a fazer cálculos, não convocam uma comissão para avaliar os sinais do Céu e da terra, partem, seguem a Estrela. Logo se verá. Confiam.
       "Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O". É desta forma que se apresentam diante de Maria, José e o Menino. A Luz que se avista no Oriente (em toda a parte) leva-os, trá-los, a Belém. A LUZ que irradia do presépio também nos há de fazer levantar, ir ao encontro de Jesus, ir ao encontro do Homem e de Deus. Os magos saem do seu espaço de conforto. E nós estamos prontos para sair do nosso mundo, do nosso conforto, do nosso comodismo para nos deixarmos surpreender por Deus?
       Quem já não se deixa surpreender pela vida, quem vive cinicamente, nunca apreciará convenientemente a alegria de viver, o prazer de estar, de se sentir vivo.
       Como não lembrar aqui o episódio da visitação de Nossa Senhora à Sua prima Isabel. Atenta aos sinais, não precisa que lhe digam o que fazer, Maria sabe que Isabel precisa dos seus cuidados, vai apressadamente em seu auxílio. Sem calculismos, sem medos, saindo de sua casa, do seu conforto. Assim também nas bodas de Canaã. Podia ficar remetida ao silêncio, à indiferença, mas atenta aos outros, intercede por eles.
       É este o segundo desafio para hoje: sair do nosso espaço de conforto para ir ao encontro dos outros.
        3 – "Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra".
       O que nos há de impulsionar é o encontro com Jesus, com a fonte de toda a LUZ. Os Magos seguem a intensidade da Luz, não se limitam a aceitar que é um fenómeno interessante, maravilhoso. Põem-se a caminho. Nada os detém, nada os faz desistir, ou relaxar. Mesmo encontrando os obstáculos da cidade - aqui podia entender-se tudo o que pode distrair-nos do essencial; na cidade perdem o rasto da LUZ, da estrela. Quantas vezes perdemos o norte, o rasto da luz? Quantas vezes desistimos, ou desanimamos, ou tememos continuar? Quantas vezes, já cansados, nos resignamos à vida que levamos, ao nosso comodismo?
       Este é outro desafio: não desistamos de procurar. Quem procura, encontra, a quem pede dar-se-á, como um dia dirá Jesus aos seus discípulos. Não esgotemos a procura. Encontramos a luz, pusemo-nos a caminho, e agora, ficamos a meio do caminho? Olhamos para trás, esquecemos o que poderemos vir a encontrar? Quantas coisas nos impedem de ver, de olhar em frente? Que situações nos fazem perder a Luz que nos vem do alto?

       4 – "Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra" (resposta ao Salmo). "Agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho".
       No presépio de Belém, com Jesus, Maria e José, encontramo-nos com a Salvação, com o Salvador do mundo, com a fonte de toda a luz, de toda a graça, de todo o amor. É LUZ para se revelar a todas as nações e não apenas a Israel, Seu povo eleito. N'Ele, o Emanuel, assentará a nova e eterna Aliança, com os todos povos. Une-se o Céu à terra e tudo é ligado pela LUZ de Deus.
       Os Magos entenderam os sinais vindos do Céu, porque estavam vigilantes, disponíveis, prontos para caminhar, envolvidos pela luz que os precede, avançam destemidos, ainda que tenham que enfrentar dificuldades, e até se tenham desorientado. Não desistem, voltam a procurar a luz, a estrela, seguem até Belém.
       Mas não acaba aqui.
       "E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho". Encontram a LUZ e esse encontro será verdadeiramente transformador. Quem se encontra com Jesus não pode regressar pelo mesmo caminho, tem de transformar a sua vida, tem de regressar fortalecido, rejuvenescido, por outro caminho.
       A luz mata as trevas, destrói a escuridão, guia-nos para outra vida (ou uma vida nova). É este outro desafio: encontrar-nos com Jesus, e deixarmo-nos transformar pela Sua luz, deixarmo-nos converter. O encontro com o Deus que Se faz Homem coloca-nos na senda da conversão.

Textos para a Eucaristia (ano B): Is 60,1-6; Sl 71 (72); Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12.

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