sábado, 16 de abril de 2011

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor - 17 de abril de 2011

       A liturgia do Domingo de Ramos envolve vários momentos importantes no desenrolar da Paixão de Jesus, deixando entrever os acontecimentos que precipitam o desfecho da Sua missão terrena e temporal. Iniciámos a Semana Maior com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e com o relato da Paixão do Senhor, que acompanhamos desde a oração e agonia no Horto das Oliveiras até à crucifixão e morte de Jesus.
       Vejamos alguns desses momentos e dos intervenientes principais.

       1 NOITE:
       É de noite que Jesus sai com os discípulos para o Jardim das Oliveiras. Para Jesus, a noite é tempo e oportunidade de oração, explicitando a Sua comunhão íntima com Deus.
       Na noite, porém, tudo acontece, todos os gatos são pardos. Os guardas, com os dirigentes do Templo, vão pela calada da noite, quando as pessoas estão tranquilas em suas casas, prender Jesus, evitando qualquer surpresa que contrariasse os seus intentos.
       O mal tem a noite, a escuridão, as trevas, por aliada. É noite quando Judas se perde e entrega Jesus. Ainda é noite quando Pedro renega Jesus.

       2 JESUS:
       O itinerário de Jesus, em Semana Santa, relembra-nos as situações diversas da nossa existência, marcada por alegrias e tristezas, pelo encanto da vida e pela  desilusão, pelas conquistas e pelas derrotas, que nos tornam mais fortes (ou nos derrotam) e fazem de nós o que somos hoje e o que poderemos vir a ser.
Em todo o trajecto sobressai uma grande confiança em Deus. Na dor mais atroz, a única saída para Jesus é entregar-se em Deus: "Pai em Tuas mãos entrego o meu espírito".

       3 MULTIDÃO:
       Quando estamos sós reagimos de maneira diversa de quando estamos em grupo. Juntamente com os outros podemos facilmente embarcar na corrente geral, para o bem e para o mal.
       No recente volume da obra "Jesus de Nazaré", o Papa Bento XVI/Joseph Ratzinger chama a atenção para duas multidões distintas: na entrada triunfal em Jerusalém e diante de Pilatos pedindo a crucifixão de Jesus.
       Jesus chega a Jerusalém para a festa da Páscoa, acompanhado pelos discípulos, pelos galileus (judeus originários da Galileia, como a maioria dos Apóstolos), e por pessoas das aldeias vizinhas, por onde Ele passou e que engrossam o grupo. É neste contexto que os judeus (de Jerusalém) perguntam o motivo da agitação e a identidade d'Aquele homem!
       Diante da autoridade romana, a "outra multidão" os dirigentes do Templo e seus sequazes, que iniciam o processo ainda noite para não chamar muito a atenção, e os companheiros de Barrabás, que estarão diante de Pilatos para fazer lóbi pela amnistia pascal do seu líder.
       Os discípulos, com medo, acobardam-se e mantêm-se à distância, não estão lá para gritar pela libertação do Mestre.

       4 DISCÍPULOS: 
       Acompanham Jesus titubeando. As coisas correm de feição e eles rodeiam-n'O alegremente. As coisas correm mal e afastam-se d'Ele rapidamente para não serem notados. No monte das oliveiras, dispersam, fogem, escondem-se. Durante o processo e até à Cruz tornam-se observadores cautelosos e distantes, vendo para onde pende a balança.
       Dói ser abandonado, mas muito mais por aqueles que deveriam estar perto, dando apoio, acompanhando.

       5 JUDAS: 
       Sem dúvida um dos discípulos mais próximos de Jesus e alguém de confiança dentro do grupo, mas que tropeça na noite e se precipita na entrega do Seu Mestre.
       O drama de Judas não está apenas no trair da confiança, mas na consequente culpabilização. Não supera o sentimento de culpa, ainda que se vislumbre o seu arrependimento - entreguei um homem inocente. A noite é mais forte, as trevas paralisam-no, não deixam penetrar a luz de Jesus Cristo.

       6 - PEDRO: 
       Do círculo mais próximo de Jesus - do qual fazem parte Tiago e João e Judas, este retirado muito cedo pelas comunidades cristãs -, Pedro encontra-se muito "verde". Com o mesmo entusiasmo se empolga no aplauso a Jesus e logo se amedronta, escondendo-se e renegando o Mestre. Dito de outra forma, quando o Mestre está, Pedro é forte. Quando Jesus não está, Pedro fraqueja.
       Diferentemente de Judas, Pedro não se deixa afundar pelo seu pecado, pelas suas trevas, "agarra-se" (de novo) a Jesus e ao Seu olhar compassivo e reconciliador e deixa-se salvar por Ele.

       7 - AUTORIDADES DO TEMPLO: 
       Funcionam também em grupo, protegendo-se mutuamente, ainda assim com dissidentes que não concordam com os procedimentos realizados para condenar Jesus. Um dos contestatários é Nicodemos.
       Sentindo-se ameaçados no seu poder e na sua liderança, não hesitam em entregar Jesus, "é melhor que morra um só homem pela nação". De algum modo completam a profecia, Jesus morrerá pela humanidade inteira, por um só homem é dada a salvação a todos.

       8 PILATOS: 
       Representante do imperalismo romano, cedo acautela o seu lugar. Seguindo a lei romana, sabe que Aquele homem é inocente e não merece qualquer tipo de preocupação. Mas logo a pressão e o medo em perder os favores do imperador alteram o seu juízo. E, ele que não queria ser envolvido nas questões religiosas dos judeus, deixa-se enredar, não tanto pelos argumentos mas pela conveniência em manter o posto. Entrega Jesus para ser açoitado e crucificado.

       9 MULHERES: 
       Ao longo da história da humanidade elas sofrem como filhas, como esposas e como mães, sofrem pelos pais, pelos maridos, pelos filhos, pelos outros. Mas aguentam firmes, vão à luta. Lá estão elas na primeira linha. Acompanham de perto o Mestre, estão bem junto à Cruz. Serão elas também as primeiras testemunhas da ressurreição. A sua fidelidade é premiada com a primeira aparição do Ressuscitado.

       10 – NÓS:
       Jesus entrega-Se também por nós. Ou dito de outra forma, também por nós Ele é pregado à CRUZ. Se vivêssemos naquele tempo e naqueles dias subíssemos a Jerusalém, pela festa da Páscoa, em que grupo nos inseriríamos? É possível que estivéssemos no lugar de qualquer um daqueles intervenientes.
       Como é que hoje nos situamos diante da Sua Cruz? Que respostas damos com a nossa vida? De que forma a Cruz é redentora para nós? Em que medida influencia as nossas escolhas e as nossas vivências?
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Textos para a Liturgia (ANO A): Is 50,4-7; Sl 21 (22); Fil 2,6-11; Mt 26,14 - 27,66

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