sábado, 16 de outubro de 2010

XXIX Domingo Tempo Comum - 17/outubro

       1 – A oração é a expressão da nossa fé. É, para todo o homem crente, um espaço vital, de encontro consigo mesmo, ouvindo a voz da sua consciência, de diálogo com Deus, deixando que o Espírito Santo inspire os seus desejos e acções, de distanciamento em relação aos outros e ao mundo, para se converter num maior compromisso com a realidade circundante.
       Dito de outra forma, a oração coloca-nos antes de mais e sobretudo na intimidade com Deus, escutando a voz da nossa consciência, onde nos encontramos connosco e com a voz de Deus que fala em nós. Contudo, a oração não é estanque, como o não é a fé. Não é algo de abstracto ou desligado da vida. Mesmo que a oração exija distanciamento, recolhimento, silêncio, retiro em relação a pessoas e espaços, é sempre aberta e comprometida com o bem dos outros e com a transformação do mundo. Tal como a fé leva à caridade e nela se fortalece, assim também a oração nos leva a Deus, no-l’O traz ao nosso íntimo, e nos embrenha na acção, na prática do bem, da justiça, na vivência da caridade. Uma oração que não nos comprometesse com os outros e com o mundo, seria uma oração vazia. 
       Mesmo que seja súplica, ou agradecimento (sobretudo pessoal), a oração conduz-nos à comunidade, na partilha, no aprofundamento da fé, no testemunho de vida, na celebração. Quem se sente abençoado não deixará de extravasar para os outros a sua alegria. Quem sofre deverá assumir em humildade a comunhão de outros, sentindo-se mais fortalecido pela oração e pelos gestos de apoio de toda a comunidade. 

       2 – Somos convidados à oração por diversos motivos e por várias necessidades. E, do mesmo modo, poderemos ter posturas diferentes em relação aos frutos da oração, seja pessoal ou comunitária. A oração pode ser súplica, prece, agradecimento, promessa, partilha da fé. Pode enriquecer-nos interiormente, ser conversão, amadurecimento, compromisso com os outros. Mas sempre nos coloca na rota de Deus, a Quem nos dirigimos e a Quem acolhemos no nosso íntimo, a Quem agradecemos e/ou com Quem "discutimos". 
       Às vezes a oração dá-nos certezas, outras vezes provoca-nos inquietações. Mas que sempre nos conduza a sermos melhores, mais santos, mais felizes. 
       Na primeira leitura há uma ligação de causa e efeito, entre a oração e as suas consequências: "quando Moisés tinha as mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha vantagem Amalec". 

       3 – Porém, nem sempre a oração nos traz conforto, ou respostas imediatas. Quantas vezes rezamos, voltamos a rezar e ficamos com a sensação que não somos ou não fomos ouvidos nas nossas súplicas?! Talvez até aconteça que quando tudo nos corre de feição tenhamos disponibilidade interior para rezar e agradecer, mas logo que alguma dificuldade nos bate à porta, logo duvidamos da oração, de Deus, da fé que professamos! 
       As leituras de hoje dizem-nos que podemos sempre confiar mesmo quando nos parece que Deus não nos escuta. No Salmo, o autor sagrado mostra-se convicto: "O Senhor te defende de todo o mal, o Senhor vela pela tua vida. Ele te protege quando vais e quando vens, agora e para sempre".
       No Evangelho, por sua vez, Jesus utiliza uma parábola sobre uma mulher pobre e um juiz iníquo que, sendo desonesto e egoísta, demora em responder aos apelos da pobre viúva, mas atende-a para que ela não o importune continuamente. E Jesus contrapõe: "E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre esta terra?" 
       Fica depois este questionamento de Jesus: Deus responderá e nós cultivaremos a fé no meio das dificuldades e das dúvidas?! 

       4 – A fé, como a oração, em Jesus Cristo, leva-nos ao seguimento. Seguir Jesus compromete-nos com a Sua palavra, com os seus ensinamentos. Acolhemo-l'O na nossa vida, para O anunciar ao mundo inteiro. A oração permite-nos viver na intimidade com Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. Mas é uma intimidade e um amor que necessita de ser anunciado, partilhado, testemunhado.
       Ouçamos as palavras de São Paulo a Timóteo e a cada um de nós, na segunda leitura, "Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça... Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina".
       O compromisso em Cristo leva-nos à missão. Não recebemos a Palavra de Deus, a Sua graça e sabedoria, para a aprisionarmos, mas para a partilharmos e quanto mais a partilharmos melhor a acolheremos.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Ex 17,8-13a; Salmo 120 (121); 2 Tim 3,14-4,2; Lc 18,1-8

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