sábado, 7 de agosto de 2010

XIX Domingo do Tempo Comum - 8 de Agosto

       1 - "Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas" (Evangelho).
       Depois de Jesus convidar a fazer-nos ricos aos olhos de Deus, contrastando com a ganância e dizendo-nos claramente que "a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens", no domingo passado, hoje clarifica, avança e aprofunda esse desafio, de maneira que não acumulemos tesouros que o tempo corrói e que em muitas situações são obstáculos a uma vida feliz, descontraída, generosa.
       Os bens são necessários para a sobrevivência e para uma vida com dignidade, mas não são um fim em si mesmo, são um meio para viver, para ser feliz. O que deve prevalecer na nossa vida é a nossa relação positiva com os outros, com o mundo que nos rodeia, com Deus, com generosidade. Os bens que prevalecem até à eternidade são aqueles que nos aproximam uns dos outros e que se baseiam no amor, na justiça, na partilha solidária, no perdão.

       2 - Ao longo da vida vamo-nos dando conta que não somos apenas matéria e que a nossa existência não se encerra no tempo histórico, medido cronologicamente, mas abre-se para outras dimensões ainda que possam ser abafadas e até esquecidas pelas preocupações do tempo presente. O nosso espírito anseia pela eternidade. O querer mais pode ser uma forma de querer prolongar a vida, prolongar a memória, de deixar marcas que nos lembrem depois da nossa morte.
       Todos já ouvimos pessoas a dizer que a última morada é o cemitério, ali todos vamos parar, mas até os mais ateus e/ou agnósticos nesses encontros com a morte desejarão, no seu íntimo, que haja algo mais que a memória da ausência dos entes queridos.
       A fé, na verdade, ajuda-nos a entender o mistério da vida (e da morte), facilita-nos o momento de encarar a perda de alguém, com tristeza e luto, mas sem fatalismos, ainda que possamos ficar atordoados por tão grande mistério.
       A morte e a ressurreição de Jesus são a certeza de que também a nossa morte terá um desenlace para além da história e do tempo, colocando-nos na eternidade de Deus. Esta esperança há-de levar-nos de novo e sempre a colocar o nosso coração onde se deve encontrar o nosso tesouro, em Jesus Cristo, sentado á direita do Pai, de onde nos atrai para o bem.

       3 - As palavras de Jesus, no Evangelho deste domingo e do anterior, recordam-nos a nossa origem e o nosso fim (finalidade) divinos. De permeio, cabe-nos acolher a dádiva da vida, assumindo-a como tarefa e como compromisso, procurando tornar-nos ricos aos olhos de Deus, pela fé que nos orienta para a verdade e para a caridade.
       Foi esta mesma fé que mobilizou os nossos pais: "A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios" (1.ª Leitura).
       Com efeito, diz-nos a Epístola aos Hebreus, "a fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se vêem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho" (2.ª Leitura).
       Por outras palavras, a fé antecipa-nos o que será a nossa vida em Deus, na eternidade, mistério revelado em Jesus Cristo, com a Sua mensagem, com a Sua vida e sobretudo com a Sua morte e ressurreição. O mistério revelado há-de comprometer-nos na ESPERANÇA, enlevar-nos para o alto, solidários com os que estão ao nosso lado.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Sab 18,6-9; Heb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48

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