terça-feira, 27 de abril de 2010

O tigre velho e o veado novo

       O tigre queria construir a sua casa. Encontrou um lugar esplêndido junto ao rio. E a mesma ideia teve um jovem veado.
       No dia seguinte, antes do sol nascer, o veado cortou as ervas, as árvores e foi-se embora. A seguir chegou o tigre e, ao ver tanto material de construção já reunido, exclamou: “Alguém que gosta de mim veio ajudar-me!” E pôs-se a construir os muros da casa.
       Na manhã seguinte, o veado voltou bem cedo. Viu o panorama e disse: “Que belos amigos que eu tenho: Ajudam-me e nem querem que eu agradeça!”.
       Fez o tecto da casa, dividiu-a em duas partes e instalou-se numa delas.
       Quando o tigre chegou e viu a casa terminada, julgou que era obra do amigo desconhecido e instalou-se na outra parte da casa.
       No dia seguinte, ocorreu que os dois saíram ao mesmo tempo. Compreenderam então o que tinha acontecido. Mas o veado atreveu-se a dizer “Já que ambos construímos a casa, porque é que não vivemos os dois juntos e em paz?”.
       O tigre aceitou: “Boa ideia. Assim ajudamo-nos também. Hoje irei eu procurar a comida. Amanhã vais tu...”. E foi para o bosque.
       Regressou ao entardecer. Trazia um veado já crescidinho. Atirou-o para a frente do seu sócio e, com a voz muito seca, disse: “Toma, faz a comida”.
       O veado, a tremer de medo, preparou a comida, mas nem conseguiu provar. E muito menos conseguiu dormir durante toda a noite. Receava que o seu feroz companheiro sentisse fome e viesse buscá-lo.
       No dia seguinte tocava ao veado procurar a comida. Que havia de fazer? Encontrou um tigre a dormir. Era maior que o seu companheiro. Teve então uma ideia. Procurou o urso, e disse-lhe: “Ali está um tigre a dormir.
       Um dia destes, ouvi-lhe dizer que tu és um mole e que não tens força...”.
       O urso foi em silêncio até ao tigre, agarrou-o e estrangulou-o. O veado conseguiu arrastar o tigre morto para casa. Deitou-o junto do tigre seu sócio e disse-lhe com desprezo: “Toma, come: só consegui encontrar este fracote...”.
       O tigre não disse nada, mas ficou muito inquieto e desconfiado. Não comeu absolutamente nada. Nem pôde dormir toda a noite. Disse para consigo: se o veado matou um maior que eu, deve ter alguma arma secreta, não é tão fraco como parece... O veado também não dormiu, pois pensava: o tigre vai vingar-se enquanto eu durmo. Já de dia, ambos caíam de sono. A cabeça do veado bateu sem querer na parede que separava os quartos. O tigre, pensando que o seu companheiro o ia atacar, fugiu; mas, sem querer, fez barulho com as garras.
       O veado, convencido de que o tigre vinha atacá-lo, também fugiu. No caminho encontrou-se com o urso-formigueiro que lhe perguntou: “Porque vais a correr tanto?”. Explicou-lhe, quase sem respirar, mas continuou a correr.
       O urso pensou: são mesmo tolos. Fizeram uma óptima casa e não sabem desfrutá-la, baseiam-se mais nas diferenças que têm do que na ajuda que podem dar um ao outro. Vou procurar quem queira partilhá-la comigo. Ocuparemos a casa e seremos felizes.

In Educar através de Fábulas, in Caminhos de Encontro, Manual de EMRC, 5.º Ano.

2 comentários:

  1. Parabéns, a fábula apresentada mostra claramente o pensamento errado de alguns, que ao invés de apegarem-se as pequenas diferenças, deveriam valorizar mais o que tem em comum. Isso com certeza seria mais útil para a comunidade em geral.

    Ricardo – 33catolico

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  2. Na sociedade actual é, de facto, uma fábula muito expressiva. As pessoas, como muitos grupos, procuram acentuar até à exaustão as diferenças. Por vezes é apenas um questão de semântica e real. Havia muito mais a ganhar com diálogo, com partilha, procurando que as diferenças nos enriquecessem e as semelhanças nos aproximassem. Obrigado, Ricardo. Acompanho o Vosso blogue com muito interesse, nas várias rubricas/secções.
    Um bom dia.

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