terça-feira, 16 de março de 2010

QUARESMA: escutar, despertar, aplanar

       Têm-se produzido textos verdadeiramente inspiradores sobre a Quaresma. Um grupo de blogues juntou-se para que em cada dia da Qauresma aparecesse uma reflexão diferente. Encontrámos este texto no 25.º Dia da Quaresma que, sem menosprezo dos demais, valerá a pena ler, meditar com atenção:
       Quaresma é tempo de despertar...escutar...de aplanar o caminho...de avançar em busca da luz de Deus que ilumina e nos ajuda a limar arestas...que nos salva...luz que nos conforta, preenche...e dá aos nossos olhos outrora apagados, uma visão "à luz da fé."
       E à medida que avançamos, a luz de Deus vai chegando aos cantinhos mais recatados da nossa alma, apurando os nossos sentimentos, aflorando em nós o desejo de entrega e de amor para com Deus e para com todos os que nos rodeiam. Além do nosso próprio caminho de conversão, Deus, responsabiliza-nos a intervir na conversão dos nossos irmãos. Somos filhos do mesmo Pai, que nos quer unidos e compactos a caminhar para Ele. E como bom Pai, põe nossos "dons" a render com o único objectivo:
       De que todos alcancemos o Seu Reino de amor.
       Esse plano, como tenho vindo a comprovar, passa muitas vezes pelo nosso recuo. Não um recuo feito de regressão na caminhada, mas um "voltar atrás" para ajudar a aplanar o caminho dos que ficaram: os cansados e oprimidos, os sem esperança, os que caíram num abismo de trevas, os que estão acorrentados e sem força para se libertarem, ou daqueles, que simplesmente não conhecem Jesus.
       Este é um recuo que dói! É um aterrar doloroso numa realidade nebulosa em que cada um está submerso e de onde se torna difícil emergir de novo. Mas, quando Deus nos dá essa missão, capacita-nos com uma força empreendedora e surpreendente, assente na plena confiança de que estamos obedecendo à Sua vontade.
       Quantas foram e são, as vezes em que volto atrás? Inúmeras! Quantas valeram a pena? Muitas! Mas são tantas as que também têm recuado por mim. Quantas vezes, sinto que não avanço nem tenho forças para arrastar para o lado os pedregulhos do meu caminho? E mais à frente, há alguém que Deus faz recuar para me buscar e dar alento, trazendo nas mãos as Suas bênçãos e na boca a Sua palavra. E com essa atitude eu desperto, deixando escorrer a seiva que me restaura e renova, me inunda de luz e ponho de novo meus pés ao caminho aplanado.
       Conclusão:
       Ora somos instrumentos de doação, ora receptores. Esta é a simbiose perfeita dum povo que se deixa conduzir pelo seu Rei.
       «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz que trás a boa notícia, que anuncia a salvação, que diz a Sião: «O teu Deus reina» (Isaías 52,7).
       Porém, por muita força e perseverança que Deus nos dê, haverá sempre lutas que abraçamos que se tornam infrutíferas, pelo “finca-pé” e resistência demonstrada. Lutas às quais expomos todos os nossos argumentos, mas que se revelam insuficientes e desgastantes...
       Ergue-se um impasse: resistir e continuar, ou desistir?
       Jesus disse aos discípulos:
       «Se alguém não vos receber bem e não escutar a vossa palavra, aos sairdes dessa casa e dessa cidade, sacudi a poeira dos pés» (Mt10,14).
       Será este versículo bem aplicado neste contexto? Será que sempre que sentimos o apelo que carregar alguém é Deus que nos instiga? Não poderá ser apenas fruto da nossa muita vontade? Porque se Deus nos incumbiu de tal, então nós ao desistir, estamos fracassando...
       E como saberemos nós quando devemos baixar os braços? Onde está a linha que nos indica onde e quando parar? Quando devemos nós sacudir o pó das sandálias e seguir em frente?
       Bem sei que mais cedo ou mais tarde, Deus clareará o nosso espírito e nos dará o entendimento, mas não saímos ilesos. Cabisbaixos, depomos armas, deixando para trás os despojos duma missão abortada, mas seguimos tristes e frustrados, embora ávidos de regressar ao ponto de partida para nos banharmos na luz que irá sacudir o pó da nossa jornada...
       Deus nos ajude a ser perseverantes, "prudentes como as serpentes e simples como as pombas" (Mt 10,16).

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